A SAGA DO PROFESSOR CABO ZÉ.

I

Meu povo, querido povo

Que sabe que nunca minto

Escrevo de um jeito sério

Com minha pena vou indo

Para retratar Cabo Zé

Que é de todos muito amigo

II

Este homem é um baluarte

Sem dúvida, uma autarquia

Este homem das ciências

É um caminhão de sabedoria

Para eles vão estes versos

Todos de minha autoria...

III

Nasceu nas potiguaras terras

Um grapiúna do sertão

De família bem numerosa

Um despotismo de irmãos

A família veio pra Brasil Novo

Na época da colonização

IV

Filho de seu Antônio José

Um cidadão da nobreza

E de d. Maria Medeiros

Uma dama, com certeza

Era um casal tão feliz

Cheinhos de gentileza

V

Graça, Ana, Junior, Socorro

Tânia, Martinho e Luizete

Chico Preto e Das Chagas

E Elza toda coquete

Todos esses são irmãos

De Zé, esse cabra da peste

VI

Era um moleque traquinas

Mas quase nunca aparecia

Os outros levavam a coça

Pelos danos que ele fazia

Comprava pinga a pedido

E no capinzal escondia...

VII

Ganhou o apelido de Cabo

Eis que a razão não atina

Desde quando era criança

Esta alcunha foi sua sina

Nunca chegou a sargento

Mas está de cabo pra cima

VIII

Adolescente, ninguém deu

Notícia de sua pessoa

Já mostrava que a maré

De sua vida seria boa

Pra pescar nada de isca

Bastava ter a canoa

IX

Foi o primeiro formado

No antigo curso científico

A propensão para os números

Mostrou-se desde o inicio

Convidado por Adelaide

Fez de professor seu ofício

X

Assumiu de mestre-escola

Na vaga de Cláudio, o gaúcho

Ministrando matemática

Suas aulas eram um luxo

Mesmo assim um dia correu

De Assis a qualquer custo.

XI

É que ele ainda não tinha

O cacoete tão batido

Que nos dá flexibilidade

No trabalho escolhido

E evita que nós tenhamos

Comportamento explosivo.

XII

Tão logo aprendeu tudo

De relacionamento exigido

Tornou-se grande educador

Racional, modesto e sabido

Em trinta anos de escola

Foi de longe o mais querido

XIII

Queria mais sabedoria

Passou no vestibular

Para o curso de matemática

Da Universidade Federal do Pará

Era o ano de noventa e quatro

Em Altamira foi estudar

XIV

Aluno de grande destaque

Nos bancos da academia

Os professores o admiravam

Pela sua autonomia

Quase lhe deram o diploma

Antes que chegasse o dia.

XV

Sem transporte ele comprou

A famosa bike amarela

No quadro de seu camelo

Dava carona às donzelas

Foi com ela que conquistou

Iracema, a sua bela

XVI

Se aquela bike amarela

Pudesse falar, falaria

Dos muitos rabos de saia

Que nela montaram um dia

Mas isso não mais interessa

Chega de conversa vazia

XVII

Nada de amores pregressos

Pra d. Iracema não zangar

Mas que ele era um sedutor

Isso eu não posso negar

Fui aluno dele e o cara

Não dava sopa pro azar

XVIII

Quando conheceu Iracema

Não quis mais ser solteiro

Afinal já era assentado

No banco tinha dinheiro

Queria ser de família

E não mais raparigueiro

XIX

No dia que se casou

Disse então: “assim seja!

Mostrando que era macho

Homem de muita firmeza

Disse um sim muito forte

Que ainda ecoa na igreja

XX

Um dia um aluno gaiato

Querendo lhe escarnecer

Disse – você é do correio

Ele perguntou: -por que?

- Sua bicicleta é amarela

Emputeceu sem nem ver

XXI

- Então você é do correio

Disse-lhe o mestre singelo.

O aluno não entendeu

Tapado qual pote velho

Zé não se fez de rogado

- É que você é amarelo!

XXII

Afora esses dissabores

Tão comuns na profissão

Na escola Brasil Novo

Ninguém dava pito não

Era meu Deus lá em cima

E Cabo Zé cá no chão

XXIII

Nunca destratou alguém

A sua carreira é ilibada

Nunca teve mão boba

Nessas mocinhas levadas

Nem um beijinho furtivo

Nem uma cantada barata

XXIV

Se indagarem sobre Zé

Coisas que sempre faço

Da secretária ao zelador

Vão dizer sem embaraço

Como Cabo é querido

Neste sacrossanto espaço

XXV

A sua fama se espalhou

Foi da escola para além

Hoje ele dá nome às ruas

Boteco, loja e armazém

Há espaços com seu nome

Já se contam mais de cem

XXVI

Até correu uma celeuma

Sobre a rua da Ivani

José de Anchieta se referia

Ao nosso José daqui

Ou se era ao Jesuíta

Que falava língua tupi?

XXVII

O populacho ignorante

Nenhuma dúvida terá

Mesmo que prof. Benícia

Com nada concordará

Andrea Lopes não sabe

Qual posição a tomar.

XXVIII

Ensinou tanta gente

Gente sem Deus e com fé

Rica, pobre, sã e doente

Aluno que nada quer

Já vi muita véia sem dente

Que foi aluna do Zé.

XXIX

Isso em nada me espanta

De Cabo Zé esse eflúvio

Que emana de seus poros

É tão antigo e tão dúbio

Pois Zé começou na escola

Bem na época do dilúvio.

XXX

Há quem diga, sem rodeios

Logo de cara, sem engano

Que foi o Zé quem ensinou

Numeral romano aos romanos

Essa assertiva é verdadeira

Já me dizia o Guilhermando

XXXI

Dizia o Guilher também

Com ares professorais

Que a pedra da ribanceira

Quebrou a perna do rapaz

Como na canção “eu nasci

Há dez mil anos atrás.

XXXII

Uma vez vi José nervoso

Numa noite que se perdeu

Pela primeira vez de moto

Que na escola apareceu

Suas mãos tremiam tanto

Quase um ataque lhe deu

XXXIII

Quando comprou sua moto

Ninguém entendeu a verdade

Por que não comprar um carro

Se o homem era sumidade?

Um grande cientista que fez

Grandes coisas na cidade.

XXXIV

Amigo do governador

É deveras respeitado

Pelo homem do executivo

Que o chama “meu deputado”

No palácio tem passe livre

Como comensal do Estado.

XXXV

Adquiriu um carro preto

De um lustroso metálico

Da Kia Motors, senhores

É bonito pra... canário!

Dizem que comprou à vista

Se sei bem, não espalho.

XXXVI

O amigo Gricério Barbosa

O sociólogo do amor

Ao ver o carrão do Zé

A Sócrates parafraseou

Trocando antiga máxima por

“Eu só sei que nada Soul”.

XXXVII

Não são os bens materiais

Que fazem de Zé tão prezado

Nem carro, imóveis e dinheiro

Nem mesmo fazenda de gado

José é querido mesmo

Por seu jeitão de folgado

XXXVIII

Se antes era um cara durão

Hoje felicidade é que importa

Sua paixão pelo Flamengo

É uma coisa digna de nota

É um formidável piadista

Sua fonte nunca se esgota

XXXIX

Ele é pai de Monique

Uma moça de gabarito

Muito, muito estudiosa

Pesquisa com tanto afinco

Será grande profissional

Será doutora – eu não minto

XL

Mas não falemos de Monique

Nestas estrofes simplórias

Nem tampouco de Iracema

Que é do Zé sua senhora

Pois ambas merecerão

Do poeta uma outra história

XLI

É José quem interessa

Nesse cordel desolado

Sei que muitos chorarão

Com Cabo Zé aposentado

Alunos, professores, pais

Sargento e muitos soldados

XLII

Por que Cabo Zé é o cara

Homem de muitas táticas

Eu detesto comparações

Com outros de matemática

Mas tenho que fazê-las

Embora pareçam sádicas

XLIII

Mil perdões pra Luizete

Uma grande amiga do peito

Trabalhar com tanto amor

Foi sempre seu maior defeito

Mas competir com Cabo Zé

Receio que não tenha jeito

XLIV

Professora Maria Itelvina

Mulher de grande noção

Tudo que faz, faz bem feito

E é sempre de coração

Mas compreenda que o Zé

É o herói maior da nação

XLV

Em Brasil Novo não há páreo

O poeta já havia escrito

Nem Walter, nem mesmo Elaine

Nem Lenilda ou Benedito

Vencerão Cabo nos números

Na álgebra, nos logaritmos.

XLVI

Este é José de Anchieta

Medeiros Costa, que segue

Geômetra de muito quilate

Um cidadão inconteste

A todos mostrou o valor

Da soma que a vida pede

XLVII

Pois então vou concluir

Chega de puxa-saquismo

Esse cara é gente do bem

Nunca se prende a achismo

Ele é a glória da educação

Sem frescura e populismo

XLVIII

Minha musa dê-me a graça

Ainda de vê-lo como tal

Numa nova vida saudável

Olhando pro céu afinal

Espero vê-lo gozando

Liberdade e amor sem igual

XLIX

Antes que a morte venha

Reaja às dores perdidas

Amigo José de Anchieta

Usufrua de sua vida

Jesus te cubra de bênçãos

Ore por nós na partida

ELMANO ARAUJO
Enviado por ELMANO ARAUJO em 17/11/2016
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