O tronco da oiticica.

O tronco da oiticica

Rio Aracatiaçu,

O rio que corta o sertão,

Tem vasta em sua margem

Tipos de vegetação

Que protegem as ribanceiras

Suas raízes no chão.

Do século vinte ano doze

Meu trisavô lá chegou

Arriou da montaria

Cangalhas descarregou

Fincou ali moradia

De lá nunca se arrancou.

Dos anos doze em diante

Nas terras da Itaburuna,

Explorou-se nesse rio

Sua flora e sua fauna

Dentre sua diversidade

Também se via a graúna.

A oiticica já estava

No leito do rio plantada,

De suas raízes brotava

Uma'gua cristalizada

E dela se saciava

Toda gente e bicharada.

Ali o meu bisavô

E os seus irmãos também,

Brincavam de se esconder

Nos troncos que ela tem

De tarde ou de manhã cedo

Quando o sol só faz o bem.

Meu bisavô se casou

Com minha bisa Joana

E o tronco da oiticica

Continuou sua fama

De saciar toda sede

Todos os dias da semana.

Cresceram eles no rio

Agua pra casa buscavam

Brincavam enquanto vó Joana

E suas comadres lavavam

Roupas que marido e filhos

Trabalhando as sujavam.

No tronco da oiticica

A criançada brincava,

Em torno havia um poço

Que as enchentes deixava,

Às vezes um mal criado

Sem querer se afogava.

Fazia-se um alvoroço,

As mulheres socorria,

Depois do susto passado

Às crianças reunia,

E um cipó bem criado

As pernas deles lambia.

Até que vovô cresceu

E com vovó se casou

O tronco da oiticica

No mesmo canto ficou

E a sede dessa negrada

Novamente saciou.

Lá brincavam minha mãe,

Meus tios no tronco subindo,

Mergulhando em suas águas

E vovó sempre inquirindo

Pra saber se tinha alguém

Nas águas fundas sumindo.

Mamãe também se casou

Depois que ela cresceu,

Depois de uns anos casadas

A filharada nasceu

E o tronco da oiticica

Outra raça conheceu.

Eu apanhei de cipó

Pra todo mundo saber

Mamãe dizia pra nós

Nunca desobedecer

E tomar banho de cuia

Na cacimba de beber.

Aí meu irmão mais velho

Queria pular no poço

E sempre me convencia,

Pois era eu o mais moço

Chegava em casa mentia

Fazendo um grande esforço.

Que a gente tava mentindo

Um dia mamãe descobriu

Dois cipós de marmeleiro

Ela logo preveniu

Quebrou em nosso espiaço

Até sentir calafrio.

Nunca mais fomos pro poço

Na cacimba se banhava

No tronco da oiticica

Que se mantinha calada

Quatro gerações que ela

Com água boa sustentava.

Aí chegou nossa vez

De crescer e se casar

E hoje deu-me saudade

E fui passear por lá

Meus filhos lá não cresceram

Mas, o tronco inda lá está.

As coisas que Deus criou

Tem fim mas dura demais

O tronco da oiticica

Não se conta os dias que faz

Cento e quatro anos passou

Que aqui chegaram meus pais.

O tempo passa e o rio

Tem seu percurso normal

Meus bisas e trisavós

Foram ao juízo final

E também esperamos

Este triste e grande mal.

As coisas da natureza

Deus criou para nós ver

E toda felicidade

Deixou para nós viver

Mas, poucos dias nos deu

Para lhe reconhecer.

O tronco da oiticica

Fica aqui registrado,

E quando eu for por Deus

Pra o outro mundo chamado

Tenho certeza que o tronco

Por outro será lembrado.

Carlos Jaime. 23/07/2016

CARLOS JAIME
Enviado por CARLOS JAIME em 12/10/2016
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