Melhor beber só do que mal acompamnhado

I

Alfredo ex-amigo meu

Metido a galo de briga

Vivia arrumando intriga

Desde o dia em que nasceu

Mas um dia me meteu

Numa encrenca de lascar

A gente estava num bar

Num bairro bem afastado

Que Alfredo no passado

Costumava frequentar

II

Na mesa ao nosso lado

Tinha uma loura fogosa

Que Alfredo todo prosa

Se mostrava interessado

Eu fiquei preocupado

Pois a loirinha assanhada

Já estava acompanhada

O cara ao lado dela

Era um tanto magricela

Mas tinha a cara enfezada

III

Alfredo foi alertado

Pra deixar a moça em paz

Porque eu vi que o rapaz

Que era seu namorado

Estava desconfiado

Podendo ser perigoso

Ele metido a gostoso

Continuou a paquera

Dizendo que o cara era

Magrelo, fraco e medroso

IV

Mal terminou de falar

A luz do bar se apagou

Na penumbra que ficou

Eu consegui enxergar

Alfredo se levantar

Indo até a mesa ao lado

Eu continuei sentado

Pois enquanto estava escuro

Eu achei ser mais seguro

Ter um pouco de cuidado

V

De repente se escutou

Um grito na mesa ao lado

A moça gritou: _ Tarado!

Um safado me beijou

Foi aí que a luz voltou

Alfredo vinha voltando

Com a bochecha sangrando

A cara toda arranhada

Com a camisa rasgada

E a garota puxando

VI

A essa altura o sujeito

Que a moça acompanhava

Também já se levantava

Pegou Alfredo de jeito

E com um golpe perfeito

Botou o cabra no chão

Mas Alfredo era fortão

E equilibrou a parada

Bateu e levou porrada

E eu ali sem ação

VII

Mas um fato inesperado

Obrigou-me a reagir

Eu vi Alfredo cair

E quase ser esmagado

Pois surgiu de todo lado

Marmanjo de todo jeito

Eram amigos do sujeito

Que junto com a periguete

Calculei uns seis ou sete

Não deu pra contar direito

VIII

Com coragem inesperada

Eu ataquei de surpresa

Sacudi cadeira e mesa

E saí dando porrada

Com a galera afastada

Eu vi Alfredo no chão

Peguei ele pela mão

Arrastei para a saída

Com a turba enfurecida

Vindo em nossa direção

IX

Eu tinha estacionado

Meu carro em frente ao bar

Precisava lá chegar

Se não seria linchado

Alfredo estropiado

Não conseguia correr

Tampouco se defender

De uma nova agressão

Foi uma enorme aflição

Pensei que ia morrer

X

Eis, porém, que de repente,

Deus resolveu ajudar

Porque a luz do lugar

Apagou-se novamente

Foi essa a sorte da gente

E sem nenhuma demora

Nos desviamos na hora

Em direção à janela

E com bastante cautela

Pulamos dali pra fora

XI

Com o buruçu formado

No interior do bar

Nós conseguimos chegar

Ao carro estacionado

Observei com cuidado

Mas eles não nos seguiram

Eu pensei que desistiram

E relaxei a tensão

Ao ligar a ignição

Os caras nos descobriram

XII

Saí cantando pneu

Dei um cavalo de pau

Escutei um au, au, au

De um cachorro que correu

No meio daquele breu

Com os faróis desligados

Saímos desembestados

Sobrei numa curva escura

Bati numa viatura

Que vinha com seis soldados

XIII

Os soldados tinham vindo

Pela confusão no bar

Eu nunca vi tanto azar

Os tiras foram saindo

Com suas armas brandindo

Nos revistaram no chão

Jogaram no camburão

Depois no maior esparro

Um deles pegou meu carro

E seguiu o caveirão

XIV

Quando chegamos ao bar

A luz já tinha voltado

O grupo se dispersado

Ninguém pra testemunhar

Só o dono a reclamar

Que por causa da querela

Metade da clientela

Não pagou a bebedeira

Quebraram mesa e cadeira

E os vidros da janela

XV

Sem ninguém para autuar

O suposto comandante

Não pode lavrar flagrante

Pela confusão no bar

Nós não íamos falar

Que a briga foi com a gente

Depois de tudo o tenente

Já com pouca paciência

Registrou a ocorrência

Somente do acidente

XVI

Além de ouvir sermões

Estou sendo processado

E também já fui multado

Por cinco ou seis infrações

Com tantas complicações

Por culpa do Alfredão

Ele me deixou na mão

Passando o maior aperto

Porque paguei o conserto

Do sinistro camburão

XVII

Naquele maldito bar

Eu não volto nem tão cedo

Quanto à porra do Alfredo

Eu já mandei se lascar

Ele tenta me encontrar

Sempre mandando recado

Eu não quero que o safado

Cruze mais o meu caminho

Prefiro beber sozinho

Do que mal acompanhado

Edmilton Torres
Enviado por Edmilton Torres em 19/10/2015
Código do texto: T5419922
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