Assalto ao Chile
Você há de deparar-se
Com a história chilena
Que elegeu o socialista
Que honesto, roubou a cena
Do ianque oportunista
Da América, o golpista
Que do pobre não tem pena
Doutor Salvador Allende
Apresento-lhe o presidente
Elegido mui genuíno
Por eleitor consciente
Que da eleição apertada
Iniciou bela jornada
Junto com o povo valente
De ideias marxistas
Quer o Chile progressista
Findar a desigualdade
É o desejo do estadista
Vai haver reforma agrária
Com opinião operária
A nação está otimista
Criança pobre não tem fome
E deve ir à escola
Sua mãe agora pode
Pôr mistura na sacola
E seu pai, o operário
Do governo um partidário
Tem carne na caçarola
Agora o povo recebe
Medicina de verdade
Taxa de analfabetismo
Caiu mais que a metade
Brigado, Mi presidente
O povo está contente
Com a sua lealdade
As ricas minas de cobre
Monopólio estrangeiro
Voltam para a mão do Estado
Verdadeiro padroeiro
Não adianta resmungar
Tudo está em seu lugar
Aceite isso, forasteiro
O gigante lá do norte
Observa com atenção
O país da águia insana
Não aceita a situação
Burguesia ofendida
Do capital não duvida
Mais um golpe em ação
Com o Chile soberano
O tio Sam não se conforma
– Na América eu mando
Ponha um fim nesta reforma
Basta Cuba emancipar
E o Vietnã me surrar
Chile, acate minha norma
– Coloquei meu dedo em riste
Na América Latina
Imponho minha vontade
Desde o México à Argentina
Calei Peru, Paraguai
Brasil, Bolívia e Uruguai
Sou grande ave de rapina
Com Nixon presidente
Washington não tardaria
Providências para o Chile
Sufocar lhe a economia
– Sobretaxem o seu cobre
Seu minério mais nobre
Entre em contato com a CIA
E o golpe se articula
É negada a importação
CIA financia greve
Dos donos de caminhão
No mercado não tem nada
Falta alface pra salada
Faltam arroz e feijão
Para o Pátria y Libertad
Bando paramilitar
CIA destina milhões
Pro golpe não malograr
Fantoches capitalistas
Ideólogos fascistas
Vão Allende derrubar
Dia 11 de setembro
Mil novecentos e setenta e três
Massacraram a “via chilena”
Com tamanha estupidez
Tanques invadiram a rua
Santiago ficou nua
E perdeu sua honradez
Bombardeio ao La Moneda
Casa presidencial
Encurralam o presidente
Como imenso arsenal
Ali será seu martírio
Por golpistas, o extermínio
Pelo ianque, o aval
Um traidor no comando
Presidente marionete
Este é Augusto Pinochet
Governante sem sinete
Acabou a democracia
Nova ordem à policia
Arma em punho e cassetete
E o Estádio Nacional
Que outrora formosura
Sob as ordens do fantoche
É a prisão da ditadura
Erudito e militante
Operário e estudante
Vão sofrer com a tortura
O chileno não esquece
Este pobre e triste dia
Silenciaram -se as vozes
Abortou-se a utopia
Jogados em fundo claustro
Sem bandeira a meio mastro
Débil glória da harpia
Texto contemplado no II Prêmio UFES de Literatura – 2013