CINTA LARGA, O MASSACRE DO PARALELO 11

Brasil que foi descoberto

Por Pedro Álvares Cabral

Depois foi se transformando

Em potência nacional

Até virar um pardieiro

E o que era brasileiro

Virou internacional.

Mas quando era Portugal

Quem comandava a Nação

Índio era catequizado

Não havia corrupção

E mesmo levando ouro,

Roubando nosso tesouro

Não tinha tanto ladrão.

Essa tal corrupção

Não havia por aqui

O povo era primitivo

Havia a raça Tupi

Tapuia, Tupinambás

Parintintins, carajás

Aymorés e Guarani.

A grande nação Tupi

Logo se proliferou

Pelo Norte do Brasil

Muito se ramificou

Entre conquista e invasão

Geração a geração

Muitas tribos se criou.

Carajás sempre imperou

No Norte com parcimônia

Parintins na Grande Ilha

É tradição na Amazônia

Desde a Serra Paracaima

Tem Yanomami em Roraima

E Cinta Larga em Rondônia.

Bem famosa na Amazônia

Onde se proliferaram

A tribo dos Cinta-larga

Esse apelido ganharam

Desde a primeira invasão

E depois a Fundação

Do Índio a registraram.

Esse apelido ganharam

Por usarem o «tauari»

Cinta feita do entre-casca

De uma árvore dali

São índios desbravadores

Grandes grupos caçadores

Oriundos do Tupi.

Chegaram a dividir

Grande parte da Amazônia

Do Noroeste em Mato Grosso

Até o Leste de Rondônia

Em três grupos: o Kabã

Grupo Kakim e o Mã

Três festas com cerimônia.

Três tribos da Amazõnia

Com algumas subdivisões

Mas com os mesmo costumes

Nas festas e tradições

Língua do tronco tupi

Bem falada por ali

Com poucas variações.

Essas subdivisões

No idioma tupi-mondé

São também compartilhadas

Desde o baixo Guaporé

Em escala bem pequena

No Rio Branco, Juruena

Juína e Camararé.

Tribos Surui-Paiter

Os Zorós, os Gaviões

Vizinhos dos Cintas-largas

Sofreram variações

No idioma, na agricultura

Na caça, pesca, cultura

Costumes e tradições.

Ao fazerem plantações

Os homens abandonavam

As lavouras sem capina

Que no mato se criavam

As mulheres que colhiam

Às vezes até perdiam

O que os maridos plantavam.

Quando a terra se esgotava

Mudava-se de local

Às vezes até conflitos

Criavam no matagal

Quando um grupo invadia

Terreno onde outro existia

Guardando um manancial.

O habitat natural

Onde Cinta-larga havia

No fim dos anos cincoenta

Ainda compreendia

Uma faixa não tão pequena

Do Rio Roosevelt ao Juruena

Onde outro grupo existia.

Antigamente viviam

Em conflito permanente

Com outros grupos indígenas

Defendendo o seu ambiente

Muitas vezes guerreavam

E essas guerras resultavam

Na morte de muita gente.

Em sessenta infelizmente

Foram vítimas de invasões

Muitas fronteiras agrícolas

Ocupando regiões

Que ao índio pertencia

O homem branco invadia

Para fazer plantações.

Também as explorações

De recursos naturais

Por toda região Norte

E a caça aos animais

Teve como resultado

Muito índio assassinado

Cinta-larga e outros mais.

Os donos de seringais

Eram os exploradores

Para se livrar dos índios

Contratavam matadores

E essas atrocidades

Extinguiu comunidades

Por aqueles arredores.

Mas ninguém tomou as dores

Pelo índio assassinado

O Estado Brasileiro

Foi até denunciado

Internacionalmente

Por dizimar tanta gente

Sem apresentar culpado.

Um fazendeiro afamado

Chamado Antônio Junqueira

Na ganância por dinheiro

Matava por brincadeira

Para expandir os seringais

Explorar os minerais

E para extrair madeira.

Tribo Cinta-larga inteira

Foi vítima desse homicida

Homem, mulher e criança

Todos perderam a vida

Paralelo 11 sem glória

Foi massacrado e a história

Assim ficou conhecida.

Esse Junqueira homicida

Foi até denunciado

Por praticar genocídio

E declarado culpado

Mas por ser uma potência

E ter muita influência

Não sei se foi condenado.

O Cinta-larga contado

Pelos recenseamento

No ano 2003

Havia Hum mil e trezentos

Dois mil e dez se contou

E a população passou

Para hum mil e seiscentos.

Trinta e três aldeamentos

Em Mato Grosso e Rondônia

Usando a mesma cultura

Costumes e cerimônia

Mas mesmo sendo briguentos

São vítimas de violentos

Ataques na Amazônia.

Eu já citei que em Rondônia

Índios foram massacrados

Lá no Paralelo 11

Por bandidos comandados

Em combates violentos

Estupros, enforcamentos

E até envenenados.

Os bandidos tocaiados

Observavam a aldeia

Enquanto eles dormiam

Tranquilos como sereia

Quando amanheceu o dia

Começou a agonia

Numa saraivada feia.

Pouco sobrou da aldeia

Depois da destruição

Uma índia conduzindo

Uma criança pela mão

Sem poder se defender

Viu seu filhinho morrer

Com um tiro no coração.

Depois de uma confusão

Pelos bandidos gerada

Sobre o que fazer com ela

A índia foi pendurada

Pelos pés, alta do chão

E depois com um facão

Ali mesmo esquartejada.

Uma aldeia dizimada

E ninguém se dignou

A contar quantos morreram,

A imprensa só falou

Que grileiros e posseiros

Se uniram a garimpeiros

E a aldeia incendiou.

Um dos que participou

Do massacre na aldeia

Contou detalhes de tudo

Disse que a coisa foi feia

O chefe Chico Luís

Fez tudo como ele quis

E como lhe deu na veia.

Só gritava, «Mete a peia!»

Era grande o desvario

Era matando e jogando

Todos os corpos no rio

Quem fugisse da surpresa

Caia na redondeza

E vivo ninguém saiu.

Quando enfim se conseguiu

Acabar com o derradeiro

Os assassinos partiram

Pra casa do fazendeiro

Pois pelo que praticou

Cada jagunço embolsou

Uns cinquenta mil cruzeiros.

Por causa do seringueiro

Que encomendou a chacina

Os índios se revoltaram

Fizeram uma carnificina

Lá mesmo mo matagal.

Quem foi atrás do metal

Cumpriu alí sua sina.

Aonde o mal predomina

Nada de bom se resolve

Os Cintas-largas armados

No mato se locomove

Com seus melhores guerreiros

Atacaram os garimpeiros

E mataram vinte e nove.

Se a Justiça não resolve

Com imparcialidade

Ficando só de um lado,

Há essa desigualdade

Entre os assassinados

Só brancos foram contados

E enterrados de verdade.

A cobiça e a maldade

Cometeu esse displante

Matando e roubando índio

Numa proporção gigante.

Por sorte triste e amarga

A terra dos Cintas-largas

É cheia de diamante.

A formiga e o elefante

Nunca podem fazer guerra

Assim é na Amazônia

Onde a ambição encerra

Ódio, cobiça e bravata

Se apoderando da mata

Matando os donos da terra.

A burocracia emperra

Permitindo o desvario

Os potentados se valem

Dessa política vil

Que chamam democracia,

Mas é só demagogia

Que destrói nosso Brasil.

SIGNIFICASDO DE ALGUMAS PALAVRAS

E EXPRESSÕES DESSE POEMA

Pardieiro - caos, algo descontrolado

Parintins - Cidade ilha no baixo Rio Amazonas

onde acontece em junho um dos maiores even-

tos culturais do país, A Festa do Boi Bumbá.

Entrecasca - película existente entre a casca e

a madeira das árvores. sempre quase usada

como remédio pelos nativos.

Kabã, Kakim e Mã ou Mon - Subdivisões da

tribo Cinta-larga.

Tupi-mondé - um dialeto tupi

Tradição indígena: o homem planta a

mulher colhe.

O Paralelo 11 Sul é um paralelo no 11° grau a

sul do plano equatorial terrestre. Um ponto da

fronteira Brasil-Peru é definido justamente por

estar à latitude 11º Sul.

Um dos... - Ataíde Pereira dos Santos, seringuei-

ro e jagunço que participou do massacre do

Paralelo 11, mas só foi processado por extração

de madeira (mogno) da região..

Zé Lacerda
Enviado por Zé Lacerda em 12/07/2015
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