A CASA DA RUA RASA
La no fim da rua escura
Existe uma velha casa,
Ninguém ousa morar nela
Na chamada rua rasa,
Quem ousa não tem sossego,
O menor susto é morcego
Ao sacudir sua asa.
O dono daquela casa
Não gosta nem de falar
Recebeu ela de herança
Foi o segundo a morar
Herdou de um tio seu
Logo quando este morreu,
Foi o seu primeiro lar.
Não suportando o que via
Logo no primeiro mês,
Pegou mulher e mobília
E se mudou de uma vez,
Só voltou para zelar,
Para tentar alugar
Sem contar nada ao freguês.
O primeiro aluguel
A um carteiro foi dado
Um rapaz calado e triste
Sem família e separado,
Ao notarem a sua ausência,
Suspeitaram da falência:
Acharam ele enforcado.
A notícia se espalhou
Pelos cantos da cidade
Mas ninguém sabia a causa
Dessa sua mortandade,
Só depois que a perícia
Esclareceu a notícia
Da carta, toda verdade.
Nela tinha um relato
De tudo que lá havia:
Vozes vultos e sussurros
Choro dor e agonia
Desde que nela entrou
Tanto viu como escutou
Fantasmas e gritaria.
A perícia definiu
Como mera conclusão,
Que o infeliz se entregou
À profunda depressão,
Cessando sua pobre vida
Com atitude suicida,
Pondo fim à aflição.
Esse foi um dos relatos
Que na casa aconteceu,
Depois outros sucederam
Na casa de escuro breu
Ainda lembro mais dois
Que logo conto depois
Uma das vítimas fui eu.
Após esse ocorrido
A casa ficou fechada
Até mesmo a vizinhança
Ficou quase abandonada
Ninguém ousava morar
Naquele macabro lar
Da famosa rua rasa.
O dono dela então
Não tendo a quem alugar
Tomou logo a decisão
De seu aluguel baixar
Reformou-a por inteira
Toda a frente e a traseira
Construindo um novo lar.
Depois de um certo tempo
A casa já reformada
Um vendedor ambulante
Fez dela sua morada
Dividindo-a com mais três
Não suportou nem um mês
Bateram em retirada.
Sem saber da sua fama
Os vendedores chegaram
Numa noite de garoa
Em um bar se acomodaram
E lhes deram informação
De onde havia uma pensão
Onde logo se alojaram.
Um deles ficou em pânico
Que foi preciso sedá-lo
Enquanto dormia à noite
Algo vinha sufocá-lo
Apertando sua garganta
Sua agonia era tanta
Que foi preciso interná-lo
Eu que era meio cético
E de mente cientista
Costumava a dizer:
Toda causa deixa pista
O cancão não cura asma
Não acredito em fantasma
Tudo é engano de vista.
O povo da região
Dizia com essa fala:
Pra testar sua coragem
Dorme ao menos numa sala!
Dorme uma noite apenas
Quando vir aquelas cenas
Vai ficar até sem fala.
Pra enfrentar o desafio
E acabar com a zombaria
Ajustei com o seu dono
Fiz dela uma moradia
Mas quase morri a esmo
Nunca mais eu fui o mesmo
A partir daquele dia
A maior das agonias
Naquela casa eu passei
O motivo de eu estar vivo
Nem dizer direito eu sei
Sei que eu vivo arrasado
Tomando até controlado
Das coisas ruins que avistei
Pra terminar a história
Da amaldiçoada casa
A dizer só tenho algo
Sei que isso me arrasa
A ciência não explicou
Tudo aquilo que passou
Na maldita rua rasa.