POR FALAR EM PICADURA...
POR FALAR EM PICADURA...
Silva Filho
Por falar em picadura
O cordel mete a vara
Todo mundo quer saber
O que há nessa seara;
Pra todo lado tem grito
E tem muito mais mosquito
Nas mansões e nas ocaras.
Um país continental
Que atende por gigante
Tem mostrado por aí
Que engole elefante;
Mas exibe um conflito
Engasgado com mosquito
Numa cena humilhante.
O culpado é o Povo
Por esse dengue teimoso
Dizem os incompetentes
Num discurso remansoso;
Falta mesmo armadura
Pra conter a picadura
Desse traste tão dengoso.
Já tentaram fumacê
Com veneno borrifado
Mas o mosquito travesso
Tomou como ‘baseado’;
Inalando o produto
Recebeu salvo-conduto
Pra ficar mais aloprado.
A Imprensa vem falando
Nu’a descoberta de fé
O bichinho desgraçado
Tem aversão a café;
E se lhe derem a borra
Sua vida vira zorra
Sem poder ficar de pé.
Mas o Povo não é trouxa
E bem sabe da verdade
O que falta no Brasil
É somente autoridade;
Também determinação
Pra cumprir cada função
Com a força de vontade.
O contexto das cidades
É muito mais que moradas
Há os terrenos baldios
E sucatas reviradas;
As extensões ribeirinhas
Abrigam muitas latinhas
Logo após as enxurradas.
Também prédios em ruína
Com águas estagnadas
Um problema bem presente
Em casas abandonadas;
Para quem se faz atento
Vai notar que até jumento
Sabe dessas emboscadas.
Mas o Governo insiste
Com o Povo na chacota
E nas suas residências
Fiscalização adota;
Como se algum demente
Tomasse como parente
Um mosquito idiota.
Essa falta de respeito
Parece nunca ter cura
Uma grande encenação
Que muito tempo já dura;
Mas o Povo vai pensar
E ao Governo desejar
Uma baita picadura.
Onde anda a Ciência
Que não tem uma vacina?
Nem uma isca qualquer
Para mosquito traquina;
Nesses tempos de descaso
A Ciência quer um prazo
Pra sair duma vitrina.
Após milhares de mortes
Deve vir algum cientista
Com a cara de ‘Mané’
Concedendo entrevista;
Pra dizer que a picadura
Perdeu força, já não dura
Pra calar um cordelista.