OS COMUNISTAS

OS COMUNISTAS

Trabalhei com comunistas

Escrevia num jornal.

Eram todos muito unidos

Tudo até muito legal.

Todos eram “CAMARADAS”,

Do porteiro ao diretor,

Do mais velho ao mais novo

Ninguém chamava: senhor.

As pessoas que conheci

Eram todas bem normais,

Tinham sonhos como temos,

Lutavam por ideais.

Conheci Luiz Carlos Prestes

Pequeno, calmo, fala mansa.

.Seu nome de guerra era:

“CAVALEIRO DA ESPERANÇA”.

Carlos Prestes fundador

Do Partido Comunista,

Capitão de uma revolta

Sem medalha, sem conquista.

Para conhecer a Rússia

Ofereceram-me passagem

Hotel, passeios, guias,

E que fizesse boa viagem.

Foi-me dado um aviso:

-Conservar boca fechada.

Responder só as perguntas,

Olhar só, sem falar nada.

Uma jovem foi à Rússia,

Não resistiu, comentou.

Foi levada pra Sibéria

E nunca mais retornou.

Era a Cortina de Ferro

Prendendo e cortando passos.

Difícil entrar ou sair,

Dificil romper os laços.

_Cuidado, filha, cuidado,

Minha mãe recomendou.

Lembra bem daquela moça

Que foi nunca mais voltou?

Não fui à Rússia temida

Conhecer tempos de glória.

Se tivesse feito a viagem

Seria outra minha história.

Sai fora do jornal

Antes da Revolução.

Se tivesse ficado lá

Ia ser mira de canhão.

No dia 31 de Março

De novecentos e oitenta,

Fui para Belo Horizonte

E ao chegar fiquei atenta:

O ônibus ficou parado:

“-Pra lá ninguém mais passa.”

Ficou bem longe do centro,

Ficou bem longe da praça.

Era o Golpe Militar,

Foi dado na capital.

Brasília ficou tomada

De Coronel e General.

-Abaixo o comunismo-

As famílias em procissão

Saíram rezando o terço,

Excomungando a maldição.

O comunismo naqueles dias

Era a noite de eclipse.

Era como fim do mundo,

A besta do apocalipse.

.

Comunismo naqueles dias

Era palavra maldita.

Batiam na boca ao falar:

-“Deus livre desta desdita”.

Todos do jornal sumiram,

Os bens foram tomados.

Camaradas, eram presos,

Sumidos ou exilados.

Depois de tudo passado

Fico pensando cismada:

-Tanta luta, tanta briga

No fim dá tudo em nada...

Agora é que nós vemos

Não foi preciso nem guerra,

Os ídolos fortes da Rússia

Seu povo jogou por terra.

O que dava medo e pavor,

Rússia, o bicho papão,

Já é passado esquecido:

Cortina de ferro e prisão.

-- Nunca fui comunista,

Creio em Deus, Virgem Maria.

Comunista é sempre ateu,

Não tem Deus por companhia.

Mas as que eu conheci

Eram todas bem normais,

Tinham sonhos como temos,

Lutavam por ideais.

marinaza
Enviado por marinaza em 13/04/2015
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