CENÁRIO CAMPESTRE
CENÁRIO CAMPESTRE
Silva Filho
Foi o rangido das cordas
Que chamou minh’atenção
Uma rede estendida
Dando ares do sertão;
A passarada entretida
E uma dama convencida
Do que quer seu coração.
Fui tentar uma espiada
Com binóculo potente
Pois na rede estampada
Há um corpo efervescente;
Vi u’a pele avermelhada
No setor da encruzilhada
Sob a roupa transparente.
Debaixo duma mangueira
Que faz sombra no quintal
Entre o tronco e a parede
Bem no espaço central
Uma rede guarda a sede
Tocando a madeira verde
Compondo um quadro rural.
Quem na rede concatena
Enquanto nela balança
Tem o poder duma antena
Que muito longe alcança;
Tem na mente uma cena
(Com sua flor de alfena)
Traspassada por u’a lança.
Paira mormaço no céu
(Na rede só umidade)
Uma dama quase ao léu
Em forçada castidade;
Distante faço escarcéu
Pra me livrar desse véu
E ter melhor claridade.
Já estou até suado
Na busca de céu aberto
Por um sonho embalado
E um destino bem certo;
Lá no nicho encantado
Vou chegar esfomeado
Tendo a comida por perto.
Vou deitar naquela rede
E me perder no prazer
Sem lençol, sem cobertura
Sem roupa, sem depender
De pudor ou compostura
De qualquer outra frescura,
Se bem me fiz entender.