A FORÇA DO MOTE

A FORÇA DO MOTE

Silva Filho

Já fiquei sem expressão

Com minha verve aos trancos

Ou aos trancos e barrancos

Perdida sem um refrão.

Sem qualquer inspiração

Sofrendo com um boicote

O vazio deu um bote

Faltou mão pra escrever

Quem não sabe, vai saber

Que meu estro quer um mote.

Quando falta um bom tema

Não tem musa que dê jeito

Vem um apertão no peito

Com sintoma de edema.

Não se tem estratagema

Nem a sorte com mascote

Um cansaço no cangote

Faz a verve se esconder

Quem não sabe, vai saber

Que meu estro quer um mote.

Há quem pense no sertão

Há quem fale em mulher

Mas o som que você quer

Não faz a composição.

Nem fazendo um serão

Nem abrindo seu malote

Pra rever o seu pacote

Com um trevo bem-querer

Quem não sabe, vai saber

Que meu estro quer um mote.

No seu bolso não há carta

Nem coelho na cartola

Se forçar demais esfola

E o estro se aparta.

Quando a mente está farta

De fazer versos em lote

Nem o fogo do archote

Vai fazer desempecer

Quem não sabe, vai saber

Que meu estro quer um mote.

Sendo assim sem solução

Não há que ficar teimando

Você vai se acostumando

Com estranha sensação.

Mas se quer a combustão

Num estalo, num pinote,

Do xaxado faça um xote

Sem tentar compreender

Quem não sabe, vai saber

Que meu estro quer um mote.