O CAVAQUINHO

Mais pobre da vila o pai era.
Tão pobre em miséria, coitado.
Só por um exame quisera
O filho ser homenageado.

Os anos lhe contavam dez,
Da vida sabia um bocado.
Na pobreza, da riqueza invés
Nunca havia sido prendado.

Embora difícil achasse,
A tal prenda sair
E ao pai sempre lembrasse
A prenda que podia sentir.

Em dezembro aos vinte e três,
Antes de chegar Natal,
O pai, pra não ser descortês
Da vila trazia-lhe o tal.

Depois da ceia a rezar
Fazia a família assim,
Aos santos põem-se a chamar
Para livrá-los, enfim.

Mas, o juízo daquele
Da prenda não esquecia.
Queria que já fosse dele
O premio, Oh! Que agonia!

O pai ao acordar não via
À vila cedo partiu
Passou o dia de espia
A prenda que não saiu.

A noite com chuva chegou
O vento assobiar,
O frio que aumentou
O tempo pôs-se a assombrar.

O tio com o pai foi ou não?
-Foi. Pôs-se a mãe explicar.
Pensando, ele olha ao chão
A mãe está a chorar.

Pisadas se ouve ao leu.
-Maria, Maria vem abrir.
Nem prenda, nem pai oh! Céu!
O tio entra sem sorrir.

Que susto! Que desespero!
A mãe põe-se a soluçar.
Do cuchicho derradeiro
Não pôde o filho escutar.

Pela prenda esperando
Sem conhecer o destino,
O pai fôra encontrado
Morto junto ao cavaquinho.
CARLOS JAIME
Enviado por CARLOS JAIME em 10/09/2014
Reeditado em 08/10/2016
Código do texto: T4957079
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