JACKSON DO PANDEIRO EM VERSO DE CORDEL
Convido você leitor
Deste Brasil forrozeiro
A chegar ao meu forró
Traga mais um companheiro
Pra escutar o rei do ritmo
Que é Jackson do Pandeiro.
O forró está arretado,
O sanfoneiro é Gonzagão.
O pandeiro é de Jackson
Que brilhará em sua mão.
O ritmo vai correr solto:
Forró, marchinha e rojão.
Lá a Ema vai gemer.
Vai está Sebastiana.
O forró será animado.
Dura mais de uma semana:
Coco, xaxado e baião
E o Xote de Copacabana.
Jackson do Pandeiro é
Nosso ídolo nordestino;
Recebeu do pai celeste
O dom do ritmo divino
E assim se destacou
Desde que era menino.
Foi lá em Lagoa Grande
Que o poeta nasceu
No pacato Engenho Tanque
Ali se desenvolveu
Da Paraíba para o mundo
Seu pandeiro floresceu.
A 31 de agosto
19 foi o ano.
Nasceu José Gomes Filho
Por ordem do soberano
E para brilhar no mundo
Deus já lhe traçara um plano.
Jackson foi menino pobre
E assim não pode estudar.
Perdeu o pai muito cedo
E teve que trabalhar
Pra ajudar sua mãe
Os outros irmãos criar.
Sua mãe se chamava Flora
Maria da Conceição
Uma cantadora de coco:
A artista “Flora Mourão”
Certamente influenciou
Este ídolo campeão.
Levou uma vida simples
Não foi alfabetizado,
Mas encontrou no seu lar
Professora e aprendizado,
Como gostava da música
Logo foi aprofundado.
Convivendo com a música
Assistindo a mãe cantar
E dançar coco e xaxado
Fez Jackson se apaixonar;
Quem ganhou foi o Nordeste
Motivo pra se orgulhar.
Ele decorava as músicas
Que cada vez lhe encantava
E entre as coisas da mãe
Seu instrumento dedilhava
E assim o dom fluía
E o seu sonho alimentava.
Desejava uma sanfona,
Fazer show, ganhar dinheiro,
Como a mãe não podia
Deu-lhe um pequeno pandeiro
Quis o destino assim
Mostrá-lo ao mundo inteiro.
Aos 12 anos sabia
Tocar zabumba,ganzá,
Reco-reco,pandeiro
E até o maracá.
E nos shows com sua mãe
Começava a ajudar.
Adorava bangue-bangue.
Era seu filme preferido.
Imitava algumas cenas
Por ser muito extrovertido.
Denominou-se de Jack
Eis ai seu apelido.
Jack com 13 anos
Bota o pé na estrada.
Chegou a Campina Grande
Ao lado da mãe amada,
Por não suportarem a fome
Fizeram essa caminhada.
Ali em Campina Grande
Ao lado da Parentela
Estava Flora com os filhos,
Uma família singela
Para ali tentar a sorte
Uma artista tão bela.
Jackson arranjou emprego
Numa humilde padaria.
Assume as despesas da casa
Eis ai uma alegria
Graças a Deus eles tinham
O seu pão de cada dia.
O tempo foi se passando
E Jack ali cresceu
Se envolvendo com a música
E outros músicos conheceu
E o apelido de menino
Como artista apareceu.
Fazia pequenos shows
Sendo menor de idade.
Aquele menino franzino
Tinha grande agilidade.
Passou a tocar em bandas
Ainda naquela cidade.
Com seu talento divino
Passa a ser reconhecido
E logo ganha um pandeiro
De um amigo querido
E com esse instrumento
Deixou o forró colorido.
Sua vida de artista
Já começa a decolar
E um passo para glória
Ele já começa dar.
Os primeiros horizontes
Já começam despontar.
No balcão da padaria
Ele estava conformado
E dali podia ver
O Cassino Eldorado
O mais famoso Cabaré
Do Nordeste, o afamado.
Este cassino leitor
Tinha sofisticação
Por volta dos anos 30
Já chamava atenção
E Jackson com seu pandeiro
Ali foi a atração.
Tocando neste recinto
Chamou muito à atenção
Tocando todos os ritmos,
O pandeiro era ostentação
E convivendo com artista
Que sempre lhe dava a mão.
Em mil novecentos e
Quarenta e quatro numa boa
Jackson deixa Campina
E parte pra João Pessoa
E nas noites pessoenses
O seu pandeiro já soa.
A vida ali não foi fácil
Emprego não existia,
Tocava nos cabarés
E recebia “mixaria”,
Mas lapidava seu talento
Que em pouco tempo viria.
Foi com a Rádio Tabajara
Que a coisa vem a mudar
E Jackson foi convidado
Pra na rádio trabalhar
E por toda Paraíba
O seu ritmo mostrar.
Ele conquistou audiência,
Amizade e simpatia.
Seu pandeiro e seu gingado
Dava maior alegria
E assim aquele artista
Estava contente e sorria.
Empregado na emissora
Com o salário garantido
Trouxe a mãe e os irmãos
Que ficaram agradecidos
E quando tudo ia bem
Vem o destino bandido.
Tudo pareciam flores,
Mas o destino não quis.
A sorte lhe prega uma peça
Que o deixa infeliz.
Morre Flora sua mãe
Deixando-lhe a cicatriz.
A diabete maldita
Leva sua mãe querida
No ano 46
Foi-se parte de sua vida,
Porém Jackson toma a frente
Após sua despedida.
Órfão de pai e de mãe
Ele resolve viajar
Seguindo pra Pernambuco
Querendo algo conquistar
E como ave, alça voo,
Porque viveu de sonhar.
Na capital Recifence
Teve um convite especial
E logo foi contratado
Para a Rádio Jornal.
Conquistou os Pernambucanos
Com seu ritmo jovial.
Ele cativa a audiência
E logo chama atenção
Vira notícia e vai
Contar na televisão,
Em praças públicas, clubes
E vira a maior atração.
Tocava vários instrumentos.
Fazia com maestria.
Violino, pandeiro
E dava show na bateria
“Homem orquestra” lhe chamavam
E a fama assim fluía.
Toda vida deste artista
Foi um pouco conturbada
E com Maria da Penha
Que foi sua primeira amada
Separou-se e caminhou
Sozinho pela estrada.
Em Recife apareceu
Uma moça inteligente,
Elegante e muito bela
De olhar meigo e atraente,
Era atriz, professora
E dançarina competente.
Seu nome Almira Castilho
Que logo foi aprovada
Para uma seleção,
Ela estava preparada
E lá na Rádio Jornal
Estava Almira empolgada.
Jackson logo a conheceu,
Mas com pouca intimidade,
Só trocavam cumprimentos.
Faltava oportunidade,
Algo estava reservado
Para sua felicidade.
Foi num pré-carnavalesco
Que a rádio resolveu criar
Para atrair empresários
Americanos pra fechar
Negócios com os pernambucanos
Foram ali se encontrar.
Jackson e Almira foram
Para o evento escalado
E surpreenderam a todos
Com o que tinham ensaiado
Uma música divertida
E formaram um par casado.
Foi a música Sebastiana
Que ali chamou atenção
No Carnaval de Recife
Foi uma grande explosão
E Jackson com seu talento
Fez bela apresentação.
Rosil Cavalcanti era
Desta música o autor
Que era parceiro de Jackson
E que também era cantor
Ambos receberam dom
Das mãos do nosso Senhor.
Almira com seu talento
Fazia a coreografia
Interpretando a música
Dançando com maestria.
Os dois eram a sensação
Que esbanjavam alegria.
Começaram a fazer show
Na terra Pernambucana
Seu nome vira manchete
E a música Sebastiana
Ouvia-se em todo canto
Por ter um ritmo bacana.
O sucesso desse mito
Chega ao Rio de Janeiro.
Encanta os cariocas
E todo solo brasileiro.
Nas paradas de sucesso
Jackson era o primeiro.
Até o Rei do Baião
Que o Nordeste propaga
Reconhece seu talento,
Seu sucesso e sua saga
E logo foi aplaudido
Pelo Rei Luiz Gonzaga.
Gonzaga conhece Jackson,
Admira seu talento,
Foi lá na Rádio Jornal
Que aconteceu esse intento,
O Rei convida pra shows
Naquele exato momento.
Almira e Jackson recusam
Porque já tinham contrato
E em Recife o cantor
Tinha todo o aparato
Cantando Sebastiana
O sucesso era nato.
Mas o destino de Jackson
Foi nosso Deus quem traçou.
O sucesso era grande,
No Rio de Janeiro chegou.
Ultrapassando fronteiras
E o carioca encantou.
Sua fama ali crescia
E muitos fãs conquistavam.
Os donos de gravadoras
Sempre eles os procuravam
Querendo lhe conhecer
Porque seu ritmo os encantavam.
Nessa época, inspirado
Jackson com seu pandeiro
Compõe uma música nova
O Forró do Limoeiro.
O seu sucesso aumenta
E ganha muito dinheiro.
Surgem logo as propostas;
Jackson tinha que gravar.
Este era seu destino
Esta arte propagar;
Fecha com Copacabana
E o seu ritmo vai pro ar.
Em mil novecentos e
Cinquenta e três já gravou
Seu primeiro LP,
Pois o contrato fechou
Na cidade do Recife
Onde mais fazia show.
O LP foi gravado
Nos estudos da Jornal,
Feito em condições precárias,
Mas o poeta tinha o aval.
Ele escolheu as músicas
Que foi sucesso sem igual.
50 mil cópias venderam
O Forró do Limoeiro
Junto com Sebastiana
Seu sucesso pioneiro
Isto em algumas semanas
E lhes aumentam o dinheiro.
Almira começou cuidar
Dos negócios do cantor.
Ela o alfabetiza
Com seu gesto sedutor,
Cuida do seu guarda-roupa
Fazendo com muito amor.
Logo Jackson e Almira
Começaram a namorar
Repartindo palco e casa,
Logo pensam em casar
Enquanto estiveram juntos
Foi trabalho e amar.
Todo sucesso de Jackson
Do Recife se espalhava.
Lá no Rio de Janeiro
Sua música ali tocava
E os cariocas por ele
Sua presença o aguardava.
O “Forró do Limoeiro”
E “Sebastiana” tocava
Lá no Rio de Janeiro
E ao povo encantava,
Mas o poeta com medo
De avião não andava.
E assim nosso cantor
Vivia se desculpando
Quando marcava a viagem
Ele ia adiando
Mas o carioca vivia
O seu nome ali chamando.
Jackson decide ir ao Rio,
Cidade maravilhosa.
Viajou em um navio
Fez uma viagem gostosa;
Almira vai de avião
Pois é mulher corajosa.
Em 19 de abril
54 o ano
Pisa no Rio de Janeiro
Um grande paraibano
Vislumbra-se do que vê
E agradece ao soberano.
Passou a ganhar cinco vezes
Que um cantor iniciante.
Com fama e muito dinheiro
E seu ritmo extravagante
Ao lado de Almira Castilho
Sua esposa elegante.
Visitou Rádio e Jornal
Dava muita entrevista
E até na televisão
Apresentou-se como artista
E sua foto estampada
Em uma famosa revista.
O lucro de Jackson e Almira
Todas as marcas superavam.
Seus shows eram casa cheia
Onde se apresentavam
E até na Argentina
A fama deles chegavam.
Pra Rádio Jornal do Comércio
Tiveram que retornar
Para cumprir o contrato
Tinham que ali trabalhar,
Mas o nome no Sudeste
Aguardava ele voltar.
Nesta época Sebastiana
Era um sucesso total.
Fazendo shows na região
Tendo do povo o aval
E a dupla se destacava
Com sucesso magistral.
Tudo estava dando certo
E a sorte os acompanhava
Nos negócios e no amor,
Eles bem assimilavam
Almira controlando tudo
E o sucesso esbanjava.
Em meio a esse afã
Numa festa de casamento
Onde foram convidados
E atenderam o chamamento
Pra cantar os seus sucessos
Sofrem um espancamento.
Esse espancamento fez
Cancelar logo o contrato
Com a Rádio Jornal
Sem que espalhasse o boato;
Foram ao Rio de Janeiro
Alimentar-se em outro prato.
Logo em solo carioca
Aquela dupla bacana
Fecharam com a gravadora
Que foi a Copacabana,
Lança o primeiro LP
E a fama se emana.
Com a carreira em ascensão
E na mão o LP
Não demorou muito tempo
Foram parar na TV
E assim Jackson cresceu
E o Brasil pode lhe ver.
Sua fama cresceu tanto
Que nosso humilde cantor
Atuou na tela grande
E virou até ator,
Pois ele fez nove filmes
E voou feito uma condor.
Almira e o Paraibano
Tinham uma vida feliz,
Tanto é que se casaram
No civil e já fez bis
De dez anos um para o outro
E mais três primaveris.
Jackson traiu Almira
Que não aceitou o negócio.
Propõe logo ao pandeirista
Descasar-se com o divórcio,
Cada um foi para um lado
Ele seguiu seu sacerdócio.
A vida do artista muda
Até conhecer Neuza Flores.
Pede ela em casamento
E vão viver de amores.
Foi quem estendeu as mãos
Nos tempos de maus rumores.
Nessa época Jackson sofre
Um terrível acidente
E não pode mais trabalhar,
Fica acamado, doente
Dependeu até de amigos
Que logo lhe são clemente.
Foi tempo de muita crise
Que eles tiveram que passar
Ao lado de sua baiana
E foi quem pôde lhe ajudar.
Dificuldades financeiras,
Tiveram que suportar.
A sorte começou mudar
Com a ajuda de parceiros:
Gal Costa,Gilberto Gil
E Alceu por derradeiro
Deram força ao pandeirista
Que acordou seu pandeiro.
Divertido e brincalhão
Eram suas qualidades
Alegre e namorador
E muitas afabilidades
Com um espírito jovial
Confundiam-se em idades.
Com aparência feliz
Escondia uma doença;
A diabete maldita
Com taxas altas, imensa
Herdada de sua família
Que não via diferença.
Foi convidado à Brasília
A capital Federal
Com muitos shows agendados
Que elevava o astral,
Mas foi nessa tal viagem
Que explodiu esse mal.
O cantor em meio ao show
Cumprindo assim sua parte
A voz começa a falhar
Sintomas de um novo enfarte,
Mas Ele termina o show
E concluiu sua arte.
É aí que se convence
Do mal que ele sentia.
É levado ao hospital
E o seu caso se amplia
Fica em estado de coma
E foi-se embora a alegria.
Ele recobra os sentidos
Com uma rápida melhora,
Mas o caso era grave
E chegara sua hora
E assim o rei do ritmo
Deixa a terra e vai embora.
Em mil novecentos e
Oitenta e dois foi o ano
Dez de julho foi o dia
Quis assim O soberano
De levar um grande artista
Pra tocar em outro plano.
Sessenta e três anos tinha
Jackson quando morreu.
O céu inteiro aplaudiu,
Mas o Brasil entristeceu
Fazer o que ele fez
Outro ainda não nasceu.
Com seu ritmo alucinante
E seu estilo musical
Influenciou artista
De maneira sem igual.
Há Legiões de seguidores
Neste solo nacional.
Jackson legou ao Brasil
Um acervo cultural:
Quatrocentas e quinze músicas
Para ser mais pontual
Que ainda hoje é lembrada
A arte desse genial.
O rei do ritmo gravou
Dezenas de LPs
Em cada um, aula do ritmo
Que vale a pena rever.
Seu swing e seu gingado
Ainda se vemos na TV.
A sua voz se calou
O pandeiro emudeceu
“Sebastiana” não dançou
Tampouco a Ema gemeu
O Brasil todo chorou
Quando Jackson feneceu.