O SONHO DE SEVERINO

Vou contar uma história

Se é verdade não sei

Já ouvi de outras pessoas

Muitas gargalhadas dei

Vou aqui narrar em versos

Por que quando ouvi gostei

O caso aqui ocorrido

Aconteceu em um lugar

Que não me foi relatado

Mais consigo imaginar

Se foi aqui no Nordeste

Eu prefiro acreditar

Lá pras banda da Bahia

Existia um fazendeiro

Rico com terras e gado

E também muito dinheiro

Tinha fama de bondoso

Amigo e hospitaleiro

Dava atenção para todos

Com respeito e alegria

Quando estava em conversa

Muitas vezes ele dizia

Não gosto de preguiçoso

Isso me dar alergia

Tinha mais de vinte cabras

Morando em sua fazenda

De capataz a gerente

Cuidando de sua renda

Desde casa de tijolo

A casa de taipa e tenda

Entre esses moradores

Morava o Severino

Um rapaz pálido e magrelo

Chegou ali pequenino

Ficou nas terras arranchado

Desde que era menino

Nem vivia trabalhando

Nem dedicava-se ao estudo

Vivia fazendo mandado

E acertava quase tudo

Era conhecido ali

Como Severino mudo

Porem era meio estranho

Nunca havia falado

Andava cabeça baixa

E sempre desconfiado

Mais ninguém dizia nada

Pois já tinha acostumado

Morava em uma das casas

Cedida pelo patrão

Não era lá grande coisa

Mas lhe dava proteção

Pois era parede de meia

Com a casa do patrão

Severino muito malandro

Sempre teve a intenção

De um dia passar a morar

Na casa do seu patrão

E até quem sabe um dia

Dormir lá no seu colchão

Porem nunca se atreveu

O seu segredo contar

Nem falou para o patrão

Pois vivia a planejar

Uma maneira de um dia

Seu plano realizar

Mesmo sem saber falar

Dizia no coração:

Eu um dia ainda durmo

Na casa do meu patrão

Nem que seja meia hora

Eu deito no seu colchão

Quero saber se ele é fofo

Se é de mola ou capim

Pois se gostar da dormida

Vou é comprar um pra mim

Pra dormir sempre no fofo

E nunca mais achar ruim

Besteira de Severino!

Pois devia ter pensado

Em ficar no seu cantinho

Pra não ser prejudicado

Pensou em traçar um plano

Pra o que havia pensado

Talvez se tivesse ido

E falado com o patrão

Contando que gostaria

De dormir no casarão

Tivesse realizado

O sonho daquele bestão

Mas nunca teve coragem

E não sabia falar

Fazia um "babudejado"

Quando ia perguntar

Quando alguém lhe perguntava

Começava a disfarçar

Existia um boato

Falado no barracão

Que ali naquela fazenda

Existia assombração

E onde ele se arranchava

Ela na casa do patrão

Até mesmo o coronel

Já havia comentado

Que ha dias vinha vendo

E estava desconfiado

Que o quarto daquela casa

Estava mal assombrado

Ninguém ousava ficar

Dentro da casa trancado

Pois fazia quase um mês

Estava mal assombrado

E o patrão tava ficando

Um pouco desanimado

No desejo de dormir

Na cama do seu patrão

Severino inventou

De fazer assombração

Porem ninguém desconfiava

Que era dele esta ação

Severino logo entrava

Assim que anoitecia

Na casa do seu patrão

E por ali se escondia

Esperava dar a hora

Pra fazer estripulia

Quando a luz do candeeiro

Se apagava na sala

Que tudo ficava escuro

Ele arrastava uma mala

Batia em toda panela

E babudejava* a fala

Por causa da escuridão

Ninguém mais se levantava

Com medo do "malassombro"

Todos na casa gritava

O mais corajoso ali

Com o lençol se enrolava

Assim por quase dois meses

Severino aprontava

Não desistia do sonho

Que há tanto tempo sonhava

De dormir na cama fofa

Que seu patrão se deitava

A maneira que encontrou

Foi assustando o patrão

Pensando que ele fugia

Com medo de assombração

Pra ver se um dia dormia

Naquele fofo colchão

Mais um dia o seu patrão

Resolveu criar coragem

E armar uma cilada

Para aquela fuleiragem

E fez que ia dormir

E se escondeu na garagem

Combinou com a mulher

Que na hora de dormir

Apagasse o candeeiro

Que hoje ele ia agir

Ou pegava o "malassombro"

Ou ia embora dali

Já havia desconfiado

Que o mudo era culpado

Do "malassombro" da casa

Já que havia se afastado

Das conversas do boteco

Nas noites de feriado

A tardinha ele esperou

E viu na hora marcada

Quando Severino entrou

Com a cara desconfiada

Se escondeu numa sala

Um pouco mais afastada

Bem na hora de dormir

Quando a luz se apagou

O patrão já enraivado

Pra agir se preparou

Em menos de dez minutos

A resenha começou

Terra jogada na sala

E moveis sendo empurrado

Um batuque diferente

Um "babulejo" danado

O patrão não tinha medo

Pois já sabia o culpado

Quando Severino veio

Todo "ancho" e entretido

O patrão deu-lhe um arrocho

Pegou nos seus "pissuido"

Deu-lhe um arrocho tão grande

Que ele deu um gemido

Pare ai cabra safado

Me diga você quem é

Continuou apertando

E cada vez com mais fé

Diga se é "malassombro"

Se é homem ou se é mulher

Agarrou com as duas mãos

Apertou de fazer dó

Quanto mais ele apertava

Botava força maior

E Severino gritava

"Bababá", "bebé", "bobó"

Diga seu nome infeliz

Pois eu preciso saber

Seu nome vou divulgar

Para todos conhecer

Que esse tipo de "malassombro"

Eu boto para correr

O mudo "babulejava"

Que se entendia pouquinho

Mais a dor foi aumentando

Ele ficando fraquinho

Não aguentou mais e disse:

É Severino o mudinho

Foi essa a primeira vez

Que vi um mudo falar

Saiu dali dando salto

Sem força pra se explicar

Teve fim o "malassombro"

Que vivia a assombrar

Severino foi embora

Pois não fez a coisa certa

Levou umas "tabicadas"

E recebeu um alerta

Foi embora reclamando

Andando de perna aberta

A lição ele aprendeu

Demora mais sempre vem

Se contentar com o que seu

Maior que essa não tem

Nunca mais quis se deitar

Em cama de seu ninguém.

JOSE AMAURI CLEMENTE
Enviado por JOSE AMAURI CLEMENTE em 12/05/2014
Código do texto: T4803473
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