MUDANÇAS NO MEU SERTÃO

MUDANÇAS NO MEU SERTÃO I

Muitos anos passei fora

Da terra onde eu nasci

Mas os costumes de outrora

Mesmo assim não esqueci

Não esqueci meu lugar

Quando decidi voltar

Quase não reconheci

Por falta de provisão

Na terra onde fui criado

Não voltei para sertão

No meu tempo planejado

De anos foi meio cento

Depois do meu aposento

Voltei pra ver o passado

Chorei ao pisar no chão

Do meu Nordeste querido

Não vi o velho “Chicão”

Pois já tinha falecido

Seus filhos tudo formado

Tinha dali se mudado

E do Nordeste esquecido

A velha casa que tinha

E o velho barracão

Uma casa de farinha

O passador e o mourão

Tudo tinha se acabado

E no lugar foi botado

Espaço pra um estradão

Não vi mais a estribaria

Onde capim eu cortava

Pra cuidar da vacaria

E os cavalo que eu montava

Tudo foi subtraído

“Tava” substituído

Por isso ali eu chorava

O meu pé de manga rosa

Que todo ano botava

Na sombra eu cantava prosa

Minhas canções entoava

Cortaram e no seu lugar

“Tava” um quarto pra guardar

O carro o dono usava

O brejinho que corria

Aonde mamãe criava

Uns animais que havia

Onde os porcos se “banhava”

Secou e no seu lugar

Só servia pra jogar

Todo lixo que sobrava

A casinha do fogão

De onde muito tirei

Brasa e fogo no tição

Milho e castanha torrei

Tudo já ficou pra traz

Pois era o fogão a gás

Olhado aquilo chorei

O forró de pé de serra

E as meninas brejeira

Os caboclo “vei” de guerra

E as conversas de feira

Tudo tinha se acabado

Era coisa do passado

E parecia besteira

As músicas que se tocava

Nem parecia o sertão

Agora só se escutava

Rock, samba e paredão

A cultura adquirida

Fez minha terra querida

Parecer outra nação

Procurei no meio do mato

Não vi um papa-capim

Preía, coelho nem rato

Nem a casa de cupim

Tudo isso se acabou

E o culpado é quem botou

O veneno no capim

O lamparina de gás

Que de noite iluminava

Já não existia mais

No lugar lâmpada brilhava

As conversas linda e bela

Agora é tudo novela

No lugar ninguém estava

Não avistei um roçado

De milho nem de algodão

Tudo ali tinha mudado

Nem parecia o sertão

E de saudade chorei

Quando triste me lembrei

O que vivi no meu torrão

Pensei com os meus botões:

O avanço não é ruim

Mais tenho várias razões

Por isso estou triste assim

Pois aos poucos meu sertão

Esqueceu a tradição

Que plantou dentro mim.

JOSE AMAURI CLEMENTE
Enviado por JOSE AMAURI CLEMENTE em 07/05/2014
Reeditado em 08/06/2014
Código do texto: T4797395
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