MANÉ, MEU IRMÃO

Há coisas que acontecem

Que muito engraçadas são

Que nos fazem gargalhar

Outras causam confusão

Vou deixar aqui contado

Um caso bem engraçado

Que se deu com meu irmão

O nome dele é mané

É um sujeito pacato

Mais é meio desligado

Desses matuto do mato

Que sempre que negocia

Leva balde de água fria

Compra a pena e paga o pato

Tinha muitas qualidades

E assim ele cresceu

Sempre honesto e cumpridor

De tudo que Deus lhe deu

Nunca vi ele mentindo

Sempre vi ele assumindo

Aquilo que prometeu

Quando ele marcava a hora

Nunca chegava atrasado

Se fizesse algum negocio

Mesmo que fosse enganado

Mesmo levando canudo

Cumpria direito tudo

Que havia combinado

No meu caso era o contrário

Sempre fui meio enrolão

As vezes tudo cumpria

Mais em outros casos não

Fui cair numa besteira

Fui enganado na feira

Por não prestar atenção

Num mês de janeiro foi

Que aconteceu tudo isso

Fui comprar uma roupa nova

Pra missa do “pade ciço”

Que era seis “mês” pra frente

E metido a inteligente

Fui vítima do tal feitiço

Pra fazer parte da roupa

Um sapato então comprei

Desse dos bico de ferro

Na loja um pé só provei

Confiei em quem vendeu

Ele um canudo me deu

E eu nem observei

Dentro da caixa o sapato

Calça e camisa levei

Joguei tudo em um saco

Da loja me retirei

Sai feliz com certeza

Mas ia ter a surpresa

E eu nem observei

De tanto cuidado ter

No sapato que comprei

Não abri a caixa antes

Dentro da mala guardei

Pois só queria mostrar

No dia que fosse usar

Com alegria esperei

Tal foi a minha surpresa

Quando fui me arrumar

Para sair para a missa

“Tava” pensando em rezar

Quase me dar um “toró”

Os dois sapatos de um pé só

E eu não podia trocar

Quase não acreditei

Naquela falta de sorte

Tão magoado fiquei

Que pensei até na morte

Mas mesmo sendo enganado

Tive que ser conformado

Aí tive que ser forte

Guardei o sapato novo

Usei um velho que tinha

Mesmo com a roupa nova

A alegria não vinha

Fui pra missa e não rezei

Em muita coisa pensei

Pela triste sorte minha

Enquanto o padre falava

Eu pensava o que fazer

Pra me livrar do sapato

E o prejuízo reter

Foi aí que me lembrei

E no meu irmão pensei

De a ele oferecer

Durante toda “rezera”

No meu irmão eu pensava

Procurando direitinho

Soube logo onde ele estava

Escondendo a traição

Conversei com meu irmão

Pra ver se negociava

Ofereci o sapato

Ele ficou animado

Eu disse que não usei

Por que ficou apertado

Ele disse: Dá pro meu pé?

Eu disse: Fica filé

Ele ficou animado

Por quanto tu vende ele?

Eu disse dou oitenta

Mal sabia o coitadinho

Que eu tinha pago quarenta

E se tu vê que não quer

Eu vendo ao “fio” de Ester

Que me ofereceu noventa

Não senhor, eu fico sim

Afinal “tô” precisando

O meu tá ficando velho

Já tá quase se rasgando

Não vi ele com clareza

Mas tenho toda certeza

Que tu não tá me enganando

Foi botando a mão no bolso

E me deu logo os oitenta

Eu fiquei tão animado

Que suei o pau da venta

E disse com os meu botão:

Coitado do meu irmão

Tudo que faz se arrebenta

Saí em toda carreira

Um pouco desconfiado

Ele disse: Depois eu pego

Deixe na caixa guardado

Que depois eu vou pegar

Pra semana eu vou usar

Na festa de batizado

Não sei qual a reação

Quando ele viu o sapato

Mas nunca me reclamou

Por ser honesto e pacato

Não sei se foi por bondade

Ou pra devolver a maldade

Desse grandioso fato

Toda vez que ele calçava

Eu ficava desconfiado

Os sapatos de um só pé

Apontava para os “lado”

Ele calado ficava

Mesmo sabendo que estava

Calçando o sapato errado

Uma coisa ele provou

Que é um homem de bem

Não engana nem reclama

E cuida bem do que ele tem

Eu vou dizer pra você

Um dia eu queria ser

Com ele é também

Meu irmão é muito honesto

Isso ele pode provar

Não desmanchou o negocio

Isso eu posso confirmar

E pra confirmar o fato

Ele usou o sapato

Todinho, até se acabar.

JOSE AMAURI CLEMENTE
Enviado por JOSE AMAURI CLEMENTE em 07/05/2014
Código do texto: T4797392
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