VIDA SOFRIDA
SOU UM VIAJANTE DA VIDA
CARREGO COMIGO AS FERIDAS
SOU POETA INEXPERIENTE
CARREGO TAMBÉM A DOR
NA MENTE TRAGO O CLAMOR
COM A DOR DA MINHA GENTE
POUCO ESTUDO EU ME ABSTENHO
MAS POR VONTADE EU VENHO
MUITO MAL EU SEI LER
POR INTUIÇÃO EU DIVINA
CARREGO COMIGO A VACINA
A VONTADE DE ESCREVER
LEMBRO-ME DO SOFRIMENTO
DOS MOMENTOS DE ALENTO
NAQUELE PEQUENO TORRÃO
TIRANDO DE LÁ O SUSTENTO
SACIAR MEU CORPO SEDENTO
PLANTANDO AQUELE CHÃO
AS MÃOS TÃO CALEJADAS
DO CABO DA ENXADA
DE TANTO ELA EU USAR
OS PÉS TODOS RACHADOS
DO CHÃO QUENTE QUEIMADO
POR NÃO TER O QUE CALÇAR
UMA CALÇA REMENDADA
UMA CUECA TODA FURADA
CAMISA VELHA NO VARAL
JUNTO COM SUA FERRAMENTA
ESSA É A SUA VESTIMENTA
PARA A NOITE DE NATAL
UMA CASINHA DE PAL A PIQUE
NÃO HÁ TRANQUILIDADE QUE FIQUE
MUITO PERTO DE RUIR
NAS MÃOS ENROLA UM CIGARRO
NA GARGANTA ECOA UM PIGARRO
É O QUE LHE FAZ SORRIR
NA CABEÇA UM VELHO CHAPÉU
ROGA OLHANDO PRO CÉU
NO BOLSO NENHUM TOSTÃO
ESPERA ANSIOSO UM DIA
QUE VOLTE DE NOVO A ALEGRIA
CAINDO CHUVA NO CHÃO
DORMIA AO ANOITECER
NEM DEIXAVA ESCURECER
PENSANDO NO OUTRO DIA
ACORDAVA AO ALVORECER
SÓ COM ÁGUA PRA BEBER
COM A BARRIGA VAZIA
MESMO ASSIM NÃO DESISTIA
TRABALHAVA NOITE E DIA
TINHA QUE LABUTAR
PENSAVA NA FAMILIA
DA CASA SEM MOBÍLIA
QUE TINHA QUE SUSTENTAR
AO ACORDAR BEM CEDINHO
LEVANTAVA DEVAGARINHO
SEM NADA PARA COMER
PRA SACIAR SUA FOME
O POBRE DAQUELE HOMEM
SÓ TINHA ÁGUA PRA BEBER
ASSIM DE BARRIGA VAZIA
DA PELEJA NÃO FUGIA
SAIA PARA A LUTA
A ENXADA NO OMBRO TRAZIA
A GARRA DE TODO DIA
PRA RECOMEÇAR A LABUTA
ANDAVA ALGUMAS LÉGUAS
O SOL NÃO DAVA TRÉGUA
ATÉ CHEGAR AO ROÇADO
NÃO TINHA NENHUM ANIMAL
PRA LHE LIVRAR DO MAL
DAQUELE CHÃO ESCALDADO
REUNIA TODA ENERGIA
NA ESPERANÇA DE UM DIA
TUDO VIR A MELHORAR
QUE AINDA LHE RESTAVA
ERA VER SE A CHUVA MOLHAVA
A TERRA PARA PLANTAR
DE LONGE OUVIA A PANCADA
AO BATER COM A ENXADA
NAQUELE DURO TORRÃO
A POEIRA LEVANTAVA
A TERRA QUENTE ESPALHAVA
SAÍA FAÍSCA DO CHÃO
O SOL QUEIMAVA A TERRA
NO PÉ DAQUELA SERRA
E TAMBÉM TODA CAATINGA
MEU DEUS QUANTA TRISTEZA
NAQUELA MÃE NATUREZA
TUDO QUE PLANTA NÃO VINGA
MESMO COM TODA PUJANÇA
FUGIAM AS ESPERANÇAS
DAQUELE POVO MATEIRO
COM TODA INGENUIDADE
O CORAÇÃO SEM MALDADE
LIDAVAM DE JANEIRO A JANEIRO
QUANDO UMA GOTA DÁGUA CAÍA
UM SORRISO LOGO SURGIA
NA BOCA DAQUELA GENTE
ERA TANTA ALEGRIA
FELICIDADE QUE ARDIA
NAQUELE POVO TÃO CARENTE
VOLTAVAM AS ESPERANÇAS
OS VELHOS VIRAVAM CRIANÇAS
DIAS MELHORES VIRÃO
QUEM LUTA COM CONFIANÇA
DEUS LOGO ENVIA BONANÇA
JESUS É NOSSO IRMÃO
AO COLHER TODO FEIJÃO
FARINHA PRO SEU PIRÃO
ARROZ MANDIOCA E MILHO
DALÍ TIRA O PÃO
E TODA ALIMENTAÇÃO
PARA ALIMENTAR OS FILHOS
NA MESA DO CIDADÃO
QUE NÃO CONHECE O SERTÃO
MUITA FARTA EM ALIMENTO
NÃO SABEM QUE É DO CHÃO
QUE VEM TODA PLANTAÇÃO
QUE O ROCEIRO TIRA O SUSTENTO
SE O SERTANEJO NÃO PLANTAR
E TAMBÉM NÃO PUDER CRIAR
PORCO, CABRITO OU GALINHA
DINHEIRO NÃO TEM PRA COMPRAR
ELE VAI SE ALIMENTAR
DE ARROZ, FEIJÃO E FARINHA
SE NÃO FOSSE O ROCEIRO
QUE TRABALHA O ANO INTEIRO
E NAO PLANTASSE ESSE CHÃO
NA MESA DO BRASILEIRO
SO COMIDA DO ESTRANGEIRO
HAMBURGER E SALSICHÃO
A LIDA DO SERTANEJO
PRA CHEGAR AO VILAREJO
TEM QUE ANDAR MUITAS LÉGUAS
NÃO TEM FÉRIAS NEM DESCANSO
O CABRA NÃO PODE SER MANSO
É DURA E NÃO TEM TRÉGUA
SEM CHANCE E SEM ESTUDO
VEJAM SÓ QUANTO ABSURDO
SÓ A GARRA PRA VENCER
ESSA É A VIDA DO MATUTO
DO CABOCLO VALENTE E BRUTO
QUE LUTA PRA SOBREVIVER
ENQUANTO A TAL SOCIEDADE
SÓ VIVE NA VAIDADE
SE MATANDO PRA CRESCER
ELES VIVEM COM LEALDADE
NÃO IMPERA A MALDADE
DESSE MUNDO A MERCÊ
ESSA VIDA TÃO CARENTE
VIVIDA POR ESSA GENTE
UM POVO TÃO SOFREDOR
MACHUCA O NOSSO CORAÇÃO
TRANSFORMA TODO PERDÃO
DILACERA O NOSSO AMOR.
AUTOR: JOABNASCIMENTO
DATA: 06/04/12
Recanto das Letras: JOABNASCIMENTO
Blog: joaobnascimento55.blogspot.com
SOU UM VIAJANTE DA VIDA
CARREGO COMIGO AS FERIDAS
SOU POETA INEXPERIENTE
CARREGO TAMBÉM A DOR
NA MENTE TRAGO O CLAMOR
COM A DOR DA MINHA GENTE
POUCO ESTUDO EU ME ABSTENHO
MAS POR VONTADE EU VENHO
MUITO MAL EU SEI LER
POR INTUIÇÃO EU DIVINA
CARREGO COMIGO A VACINA
A VONTADE DE ESCREVER
LEMBRO-ME DO SOFRIMENTO
DOS MOMENTOS DE ALENTO
NAQUELE PEQUENO TORRÃO
TIRANDO DE LÁ O SUSTENTO
SACIAR MEU CORPO SEDENTO
PLANTANDO AQUELE CHÃO
AS MÃOS TÃO CALEJADAS
DO CABO DA ENXADA
DE TANTO ELA EU USAR
OS PÉS TODOS RACHADOS
DO CHÃO QUENTE QUEIMADO
POR NÃO TER O QUE CALÇAR
UMA CALÇA REMENDADA
UMA CUECA TODA FURADA
CAMISA VELHA NO VARAL
JUNTO COM SUA FERRAMENTA
ESSA É A SUA VESTIMENTA
PARA A NOITE DE NATAL
UMA CASINHA DE PAL A PIQUE
NÃO HÁ TRANQUILIDADE QUE FIQUE
MUITO PERTO DE RUIR
NAS MÃOS ENROLA UM CIGARRO
NA GARGANTA ECOA UM PIGARRO
É O QUE LHE FAZ SORRIR
NA CABEÇA UM VELHO CHAPÉU
ROGA OLHANDO PRO CÉU
NO BOLSO NENHUM TOSTÃO
ESPERA ANSIOSO UM DIA
QUE VOLTE DE NOVO A ALEGRIA
CAINDO CHUVA NO CHÃO
DORMIA AO ANOITECER
NEM DEIXAVA ESCURECER
PENSANDO NO OUTRO DIA
ACORDAVA AO ALVORECER
SÓ COM ÁGUA PRA BEBER
COM A BARRIGA VAZIA
MESMO ASSIM NÃO DESISTIA
TRABALHAVA NOITE E DIA
TINHA QUE LABUTAR
PENSAVA NA FAMILIA
DA CASA SEM MOBÍLIA
QUE TINHA QUE SUSTENTAR
AO ACORDAR BEM CEDINHO
LEVANTAVA DEVAGARINHO
SEM NADA PARA COMER
PRA SACIAR SUA FOME
O POBRE DAQUELE HOMEM
SÓ TINHA ÁGUA PRA BEBER
ASSIM DE BARRIGA VAZIA
DA PELEJA NÃO FUGIA
SAIA PARA A LUTA
A ENXADA NO OMBRO TRAZIA
A GARRA DE TODO DIA
PRA RECOMEÇAR A LABUTA
ANDAVA ALGUMAS LÉGUAS
O SOL NÃO DAVA TRÉGUA
ATÉ CHEGAR AO ROÇADO
NÃO TINHA NENHUM ANIMAL
PRA LHE LIVRAR DO MAL
DAQUELE CHÃO ESCALDADO
REUNIA TODA ENERGIA
NA ESPERANÇA DE UM DIA
TUDO VIR A MELHORAR
QUE AINDA LHE RESTAVA
ERA VER SE A CHUVA MOLHAVA
A TERRA PARA PLANTAR
DE LONGE OUVIA A PANCADA
AO BATER COM A ENXADA
NAQUELE DURO TORRÃO
A POEIRA LEVANTAVA
A TERRA QUENTE ESPALHAVA
SAÍA FAÍSCA DO CHÃO
O SOL QUEIMAVA A TERRA
NO PÉ DAQUELA SERRA
E TAMBÉM TODA CAATINGA
MEU DEUS QUANTA TRISTEZA
NAQUELA MÃE NATUREZA
TUDO QUE PLANTA NÃO VINGA
MESMO COM TODA PUJANÇA
FUGIAM AS ESPERANÇAS
DAQUELE POVO MATEIRO
COM TODA INGENUIDADE
O CORAÇÃO SEM MALDADE
LIDAVAM DE JANEIRO A JANEIRO
QUANDO UMA GOTA DÁGUA CAÍA
UM SORRISO LOGO SURGIA
NA BOCA DAQUELA GENTE
ERA TANTA ALEGRIA
FELICIDADE QUE ARDIA
NAQUELE POVO TÃO CARENTE
VOLTAVAM AS ESPERANÇAS
OS VELHOS VIRAVAM CRIANÇAS
DIAS MELHORES VIRÃO
QUEM LUTA COM CONFIANÇA
DEUS LOGO ENVIA BONANÇA
JESUS É NOSSO IRMÃO
AO COLHER TODO FEIJÃO
FARINHA PRO SEU PIRÃO
ARROZ MANDIOCA E MILHO
DALÍ TIRA O PÃO
E TODA ALIMENTAÇÃO
PARA ALIMENTAR OS FILHOS
NA MESA DO CIDADÃO
QUE NÃO CONHECE O SERTÃO
MUITA FARTA EM ALIMENTO
NÃO SABEM QUE É DO CHÃO
QUE VEM TODA PLANTAÇÃO
QUE O ROCEIRO TIRA O SUSTENTO
SE O SERTANEJO NÃO PLANTAR
E TAMBÉM NÃO PUDER CRIAR
PORCO, CABRITO OU GALINHA
DINHEIRO NÃO TEM PRA COMPRAR
ELE VAI SE ALIMENTAR
DE ARROZ, FEIJÃO E FARINHA
SE NÃO FOSSE O ROCEIRO
QUE TRABALHA O ANO INTEIRO
E NAO PLANTASSE ESSE CHÃO
NA MESA DO BRASILEIRO
SO COMIDA DO ESTRANGEIRO
HAMBURGER E SALSICHÃO
A LIDA DO SERTANEJO
PRA CHEGAR AO VILAREJO
TEM QUE ANDAR MUITAS LÉGUAS
NÃO TEM FÉRIAS NEM DESCANSO
O CABRA NÃO PODE SER MANSO
É DURA E NÃO TEM TRÉGUA
SEM CHANCE E SEM ESTUDO
VEJAM SÓ QUANTO ABSURDO
SÓ A GARRA PRA VENCER
ESSA É A VIDA DO MATUTO
DO CABOCLO VALENTE E BRUTO
QUE LUTA PRA SOBREVIVER
ENQUANTO A TAL SOCIEDADE
SÓ VIVE NA VAIDADE
SE MATANDO PRA CRESCER
ELES VIVEM COM LEALDADE
NÃO IMPERA A MALDADE
DESSE MUNDO A MERCÊ
ESSA VIDA TÃO CARENTE
VIVIDA POR ESSA GENTE
UM POVO TÃO SOFREDOR
MACHUCA O NOSSO CORAÇÃO
TRANSFORMA TODO PERDÃO
DILACERA O NOSSO AMOR.
AUTOR: JOABNASCIMENTO
DATA: 06/04/12
Recanto das Letras: JOABNASCIMENTO
Blog: joaobnascimento55.blogspot.com