DAS PASSEATAS (quase cordel)

Num repente, brotaram das ruas

Desceram o porteiro e o gerente

O covarde sentiu-se valente

Santas ao lado de quase nuas

Miss disputou com o sem dente

Quem iria ficar mais à frente

Fizeram espontânea aliança

Seguiram de braços dados

Patrões e desempregados

Acordando a vizinhança

De gravata e esfarrapado

Era o povo mandando recado

Fim da fila nunca termina

Na passagem de cada esquina

Da Paulista a Consolação

Sul, Norte, Nordeste, Minas

Santos, Piracicaba, Campinas

Grande centro, longínquo grotão

Cerveja esquecida nos bares

Solitária a novela nos lares

O cinema parou a sessão

Sem temer notas erradas

Vozes quase sempre caladas

Harmonizaram uníssono refrão

Uns queriam melhor condução

Pra poderem chegar no horário

Não perderem seu mínimo salário

Ouvi sobre segurança e habitação

Eu me lembrei do que pude

Gritei educação e saúde

Nó apertando o coração

Filho ouviu num sorriso o pai

Você vai ver! Agora, vai...

Mas, se aberta a apuração

Nada da vida mudar

Ficar mesmo cheiro no ar

Vai ser uma tapa na cara

Tanta gente gritando na praça

Continuar a mesma desgraça

Nada adianta ficar uma vara

Dizer que está de saco cheio

Ou então que o trem tá feio

No pastoreio de seus fiéis

Seguirão estrelas e coronéis

Sem alarde, qualquer tropel

Dispersar a silente multidão

E quem sonhou ver novo céu

Caminhar olhando pro chão

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 13/01/2014
Código do texto: T4647443
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