Seca Sem Jeito
Seca Sem Jeito.
Com a seca no sertão tudo é difícil
Não tem pasto para o gado ruminar,
O açude se secou já não tem água
Não tem como a criação se aguentar,
Bicho morto se espalhando nas veredas
E os urubus fazendo festa no lugar.
Cada canto cada moita de Velame
Pau de Candeia Indiaroba e Caroá,
Gameleira faz tempo que não dá sombra
Caíram as folhas e eu não sei se vai brotar,
O Umbuzeiro por milagre ainda está verde
Mas está seca a cerca de Gravatá.
Os barreiros não tem uma poça d’água
E onde tem já não serve pra beber,
A estiagem está na marca dos três anos
Está parecendo que nunca mais vai chover,
O cheiro da morte se espalhado nas veredas
E o sertanejo já não sabe o que fazer.
Junto com a seca vem a morte e a pestilência
Febre tifo que é doença matadeira,
Ninguém escapa morrendo de fome e sede
Desidratado ou então com caganeira,
Morre criança, moço novo e morre velho
E o caixão é uma rede de terceira.
Entra doutor sai doutor e nada muda
Porque a seca é um mal sem solução,
Palanque pra doutor falar besteira
Pedindo voto quando é tempo de eleição,
O sertanejo que já vive calejado
Só espera em Deus pra mudar a situação.
Perde a esperança porque Deus fica calado
E o clamor não muda a seca do sertão,
Penitência é rezaria sem valor
E o andor anda de acordo a procissão,
São José perde prestigio e seus devotos
Já não rezam com amor no coração.
Deixa o santo na barranca do barreiro
Na esperança de chover no outro dia,
Nessa noite vão velar mais um parente
Que morreu sem pagar o que devia,
Não tem vela não tem choro, mas tem reza
E um falecido que agora é sem valia.
O cemitério é ali mesmo no terreiro
Sob a sombra de um frondoso Jatobá,
Cova aberta num terreno esturricado
Que levaram um dia inteiro pra cavar,
Aqui se vive aqui se morre seu doutor
E nem Deus se lembra mais desse lugar.