A SORTE É UMA ESCOLHA

Houve na floresta verde

No tempo de antigamente

Somente paz e alegria

Entre animais e gente

Que nos tempos atuais

É uma coisa indiferente.

Parece até fantasia

Sonhar com paz e justiça

Pois enquanto o cão vigia

Dorme o gato de preguiça

Se a mulher assiste ao culto

O homem esquece da missa.

Por isso mesmo é bom

Em algum momento triste

Sempre a gente acreditar

Que um céu além existe

Onde todos se abraçam

E o amor eterno persiste.

O que agora vou contar

Talvez nunca aconteceu

Sendo lendas do passado

Que a história recolheu

No folclore perpetua-se

Tanto quanto o povo creu.

Um casal gerou um filho

Fruto de um amor ardente

Sendo ambos já longevos

Tiveram um filho somente

Que cresceu belo e robusto

E bastante inteligente.

Quando o moço decidiu

Conhecer o mundo afora

Após as bênçãos dos pais

Foi pra longe sem demora

Ao encontro da madrinha

Antes do romper da aurora.

Deu-lhe a fada três maçãs

Verde, vermelha e amarela

Mas com uma condição

De comer somente aquela

Que lhe apetecesse mais

Diante da fonte aquarela.

Por mais que tivesse fome

Ou sede, ele andaria

Caminhando sem parar

No dia quente e noite fria

Até achar a fonte fresca

Quando fosse meio dia.

Cansado de caminhar

Pela estrada poeirenta

Pós três noites e dois dias

Faminto e a língua sedenta

Sucumbiu na encruzilhada

Mordeu uma maçã benta.

Mas ao dar sua bocada

Da maçã verde surgiu

Morena de olhos pretos

Que mui sedenta pediu:

"Dê-me água, senão morro"

E em seus braços sucumbiu.

Três dias e duas noites

Caminhou o moço ainda

Aspirando encontrar

A fonte d'água advinda

E ansioso por abraçar

Sua amada bela e linda.

Sedento e esfomeado

Num caminho pedregoso

Ao calor do sol ardente

Prosseguia esperançoso

Porém noutra encruzilhada

Prostrou-se ele pesaroso.

Não suportando a fadiga

Mordeu a maçã amarela

E viu postar-se em sua frente

Surgindo de dentro dela

U'a jovem de olhos azuis

Tal e qual ninguém tão bela.

"Quero água", pediu a loira

Naquele deserto insosso

Nua e exalando aromas

Diante do nariz do moço

Que abanou as mãos vazias

E arqueou seu arcabouço.

Como as estrelas se apagam

À Luz do sol da manhã

Mais dois olhos se fecharam

Por causa de outra maçã

Ou quiçá nova artimanha

Da astuta Serpente irmã.

Um sonho mais soçobrou-se

Durante um tempo incerto

E o moço avante avançou

Sem vento ou brisa por perto

Só com sua maçã vermelha

Pelo areal do deserto.

Aportou-se num oásis

Que lhe pareceu miragem

Ou talvez um paraíso

Ao final da longa viagem

Pra saciar-se da doçura

Da fruta em sua bagagem.

Quando sua rubra maçã

O caminhante mordeu

Uma linda jovem índia

Num encanto apareceu

Sedenta pedindo água

Que numa cuia bebeu.

D'olhos verdes e morteiros

É uma cabocla trigueira

Que o moço não encontrou

Nos espinhos da roseira

E sim numa margarida

Uma florzinha rasteira.

Assim corremos em busca

De um distante tesouro

Que está em nosso coração

Mais valioso que o ouro

Carga que o burro carrega

E na arena mata o touro.