A MULHER DE ANTIGAMENTE

Nestes versos que escrevo

Quero homenagear

As mulheres de outrora

O por que vou explicar

Elas eram heroínas

Sofrendo desde meninas

Sem xingar nem reclamar

Vou explicar o porquê

Digo o motivo sem medo

Todos os mais velhos sabem

Isso nunca foi segredo

Era uma vida sofrida

Que pra dar conta da lida

“Dorme tarde e acorda cedo”

Na época da minha mãe

Não tinha fogão a gás

Nem ferro, nem micro-ondas

Conforto que satisfaz

Era tudo feito à mão

Na força da produção

Nem tudo corria em paz

Tinha que cuidar de ovelha

De porco galinha e pato

De catorze ou quinze filhos

E de um marido chato

Que só falava gritando

Dando chute e reclamando

Se ficasse sujo um prato

Água encanada não tinha

Lenha tinha que buscar

Fazer o fogo assoprando

Milho tinha que ralar

Para fazer o cuscuz

No escuro e sem ter luz

Elétrica pra clarear

Se quisesse lavar roupa

Tinha que levar pra o rio

Com dois menino enganchado

Nu mesmo no tempo frio

Pois a roupa que vestia

Levava dentro da bacia

Pra enxugar no estio

Três e meia da manhã

Já tinha que estar de pé

Fosse inverno ou verão

Tinha que fazer café

Pra o marido ir pra roça

Falando de cara grossa

Deixa de dengo “muié”

Todo ano tinha um filho

Nascido no mesmo mês

Muitas vezes amamentava

Três ou quatro de uma vez

Botando um em cada peito

Não sei como dava um jeito

E amamentava três

Não havia geladeira

Nem liquidificador

Dormia em cama de vara

Sem ter um ventilador

Um lençol cobria seis

Um travesseiro pra três

Não reclamava da dor

Trazia feixe de lenha

Antes do galo cantar

Enchia todos os potes

Antes do sol despertar

Pescava peixe no rio

Dizendo esse é pro meus “fio”

Poder se alimentar

Quando o marido queria

Namorar não perguntava

Se ela estava com vontade

Simplesmente lhe ordenava

Vá pro quarto me esperar

Enquanto eu vou tapear

Pedro, julho e Marinalva

Além de cuidar dos filhos

Tinha ainda os animais

Uns quatro ou cinco cachorros

Gatos tinham muito mais

Que pariam de uma vez

Em cada ninhada seis

E ninguém ouvia os “ais”

Faltava televisão

Rádio nem viam falar

Quando havia diversão

Era um forró pra dançar

Marido criava asa

Deixava a mulher em casa

Ia pra festa “farrar”

Quando ele voltava bêbado

Não era pra reclamar

Tinha que lavar a roupa

Caladinha sem xingar

Se não levava na cara

Ou apanhava de vara

Sem ninguém pra lhe apoiar

O marido perguntava:

Cadê o café pra mim?

Já foi mudar as ovelhas?

Já foi tirar o capim?

Pra dar “prás” cabras de leite

Vá antes que eu lhe ajeite

Não gosto de gente assim

Troque a roupa do Joãozinho

Faça o gogó de mané

Cate os "piôios" de "xica"

Corte as unhas de José

Vá depressa sem besteira

"Butar" banha nas coceira

Que "nascero" em "Manué"

Tem o mais novo mijado

Se arrastando pelo chão

Que peste tu tá fazendo?

Que não cozinhou feijão

Passasse o dia brincando?

Se tu tiver me enganando

Arranco teu coração.

Pra contar o sofrimento

Vai faltar tempo e papel

Das mulheres de outrora

Sofreram amargura e fel

Até ir pra terra fria

Nunca tiveram alegria

Espero que cheguem ao céu

Aqui termino o recado

Mesmo sem chegar ao fim

A história foi contada

Um monte falta pro fim

Ria quem quiser sorrir

Irei pra sempre aplaudir

Pois são heroínas sim!

JOSE AMAURI CLEMENTE
Enviado por JOSE AMAURI CLEMENTE em 17/09/2013
Código do texto: T4486215
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.