MOMENTO SERTANEJO



MOMENTO SERTANEJO
Silva Filho


Foi ali, naquela casa de tabique
Escondida nas quebradas do sertão
Onde a serra se erguia como dique
Lá estava a casinha da paixão.
Para nós sempre foi um paraíso
Com magia que mantinha o sorriso
E movia nossa vida altaneira;
Poucas reses lá no pasto rarefeito
Um cenário que jamais teve defeito
Incluindo o cercado e a porteira.

Vida simples, sem maiores pretensões
Bem distante das façanhas do dinheiro
O luar também compunha as canções
Que à noite se cantavam no terreiro.
Sem horário pra dormir e acordar
O caboclo só consegue trabalhar
Porque tem bastante fé e persistência;
A dureza do sertão é conhecida
Mas não deixa sua gente esmorecida
Mesmo que se tome como penitência.


Uns porquinhos, alguns bodes e galinhas
(Quase tudo pra formar um patrimônio)
Sem faltar o jumento e carrocinha
Pra fechar o cabedal deste campônio.
Mas a vida se mostrou mui generosa
Permitindo encontrar um mar de rosas
Como hóspede da própria Natureza;
Privações jamais maculam o recanto
Pois mais forte se destaca o encanto
Que se pode traduzir como nobreza.

Tudo isso foi a vida lá na roça
Bem marcada com sua simplicidade
Ratifico os valores da palhoça
Sem espaço pra quem quer a vaidade.
O sertão tem heróis desconhecidos
E seus filhos vão ficando esquecidos
Pelos centros ditos metropolitanos;
O Brasil é mesmo assim desagregado
Com um povo que está desinformado
Nas esquinas dos sicranos e beltranos.