TERCEIRO EXPEDIENTE





TERCEIRO EXPEDIENTE
Silva Filho


Muito cuidado, Patrão
Quando for curar o tédio
Uma norma sem perdão
Veio contra o assédio
E aquele velho serão
Pode não ser bom remédio.

Aquele Chefe assanhado
Que adora um decote
Um verdadeiro tarado
Na espreita, quer o bote
Um garanhão disfarçado
Que do sexo faz esporte.

O assédio se apresenta
Como gesto de bondade
Que o superior inventa
Dissimulando a maldade
Pois um encontro aventa
De preferência, mais tarde.

O Chefe grava o perfil
Do corpo da Secretária
Coxas feitas no esmeril
E belas peças mamárias
Um bumbum quase em vinil
Não há parte secundária.

Daí em diante desfilam
Leves toques inocentes
Cabelos que tanto brilham
E esses brincos reluzentes
Quando as defesas vacilam
As mãos atacam frementes.

Nunca mais falta serviço
Pro terceiro expediente
O Chefe só pensa nisso
Pois só nisso é competente
E agenda um compromisso
Para ser mais convincente.


Venha cá, Dona Fulana
Sente aqui, fique à vontade
Nas noites desta semana
Dobre a produtividade
Pois assim se dobra a grana
Sem maior dificuldade.

Trabalhar com atitude
É seguir o rumo certo
Mas antes que o dia mude
Vamos dormir aqui perto
Logo depois dum talude
Pra curtir o céu aberto.

Amanhã levo o seu nome
Perante a Diretoria
E recomendo que some
Toda essa serventia
E uma promoção se tome
Com a minha garantia.


Mas isso não é legal
E a coisa agora tá feia
O Chefe vai se dar mal
Com o canto de sereia
Sem passar no tribunal
Tem ressaca na cadeia.