Feijão Indigesto (em septilha)
Neste país tão gigante
Ganha a corrupção
Em que os donos da terra
Mandam na situação
E impõem a todo o povo
Ao cavar seu próprio covo
Sofrimento e repressão
Preste atenção na história
Não existe ficção
Tudo fundamenta em fato
Do plantio do feijão
Ingrediente costumeiro
Que em terreno mineiro
Alimenta a escravidão
A cidade é Unaí
No noroeste mineiro
Campeã na produção
Do feijão brasileiro
Que patrão em despudor
Controla o trabalhador
Com tiro de bandoleiro
O feijão que aqui produz
Com veneno é encharcado
Lavrador que aqui trabalha
Está quase enjaulado
E o vedor do governo
Do sistema subalterno
Todo tempo ameaçado
Esse tal de agrotóxico
Aplicado exagerado
Adoece a cidade
De modo desenfreado
Com câncer está morrendo
O corpo se corroendo
Porque o ar está drogado
Aqui para o agricultor
Só lhe resta a sobrevida
Trabalha envenenado
Inalando o pesticida
Do salário nada sobra
Volta todo à mão da cobra
Pela conta embutida
Chegando, já tá devendo
Na cantina compra tudo
Alimentos e higiene
A um preço cabeludo
Da conta não se liberta
Esta dívida é certa
Com o chefe carrancudo
Se carteira é assinada?
Você está de brincadeira
O negócio aqui é feio
Não respeitam a bandeira
Tratamento pro peão
Aumentar a produção
Ao chicote e gargalheira
Fazendeiro escravocrata
Não se livrará da pena
Ministério do Trabalho
Colocou fiscais em cena
Fez valer a canetada
E por eles foi multada
A desgraçada hiena
Porém o final é triste
Continue na leitura
O que está pra acontecer
É maldita arquitetura
Contratado o assassino
O patrão traçou o destino
Dos fiscais à sepultura
O ano é dois mil e quatro
Da Bocaina estavam perto
Quatro homens são marcados
Por defender o liberto
No decurso da estrada
Acuados em emboscada
Matados com tiro certo
Massacre dos auditores
Até hoje é anunciado
Nove anos se passaram
Quem mandou não foi julgado
Comprada a liberdade
Vive com imunidade
Do direito debochado
Unaí não está isolada
Dos desmandos do patrão
Que despreza essa Carta
Nossa Constituição
Faz o seu próprio decreto
Também determina o veto
Vivendo como barão
No país da impunidade
Falta conscientização
Por que o povo ignorante
Não recebe educação
De inverdade está coberto
Para votar de jeito certo
E mudar este refrão.