MERGULHANDO NAS ORIGENS





MERGULHANDO NAS ORIGENS
Silva Filho


A verdade é que o Cordel
Nasceu em pleno Sertão
Moldado por rudes mãos
Entre a secura e o papel.
Quando a poeira e o tropel
Brindavam a nova aurora
Os tropeiros, com esporas
Tilintavam dando o tom
Dalgum cordel, cujo som
Chorava a falta da flora.

Chorava também ausência
Da água para o jumento
E a escassez do sustento
Para tantas descendências.
Enquanto as Excelências
[Aqueles sábios doutores]
No papel de benfeitores
Desdenhavam do Sertão,
E o Cordel, em confusão
Inda lhes dava louvores.

O Cordel não tinha regras
Senão das rimas sonoras
Linhas singelas, canoras
Que o Brasil chamava brega.
Mas a cultura refrega
Marcando logo um cruzeiro
Por onde bons estrangeiros,
Gente que tem competência
Viu no Cordel a essência
Do que tem o brasileiro.

Hoje o Cordel é notícia,
É de interesse notório
Já não sendo tão simplório
Guarda essência e malícia.
E há quem queira perícia
Pra conferir sua métrica
Numa investida patética
Contra o poeta brejeiro
Que fez verso sem tinteiro,
Sem borrão, sem cibernética.