O BEBUM
As virtudes levam ao céu,
Os vícios para o buraco.
O cabra pode ser um coronel,
Mas ainda pode ser fraco,
Se bebe todo dia um tonel
E depois vai encher o saco.
Todo viciado sabe lhe dar
Com a compulsão maldita.
Mas o bebum é o único
Que para tomar a birita.
Fala coisas absurdas
E todo mundo acredita.
O bebum bebe bem cedo,
Para afastar a friagem,
Mesmo sem está com medo
Toma para ganhar coragem.
Manda botar mais uma
E toma em sua homenagem.
Toma uma dose caprichada
Toda vez que vai se banhar.
Toma duas ou três talagadas,
Para poder almoçar.
E usa a mesma desculpa
Para beber também no jantar.
Quando chega o verão
Tudo funciona ao seu favor,
Todo dia toma uma gelada
Por que está fazendo calor
Tem que tomar uma bem gelada.
O problema é que esse tal color
Só vai parar de madrugada.
Nem um artista famoso da televisão
Tem uma agenda tão concorrida:
Sexta tem o aniversário do Marcão;
Sábado tem o casamento da Cacilda;
No domingo o jogo do mengão;
Na segunda o batizado da Aparecida;
Na Terça Tem o churrasco do Tatu;
Na quarta a Macumba da ZeZé;
Quinta-feira a formatura do Dudu;
Dia vinte a procissão de São José.
Tudo isso regado a pitu
Que o bebum chama de café.
Diz com ar de quem tem convicção:
A bebida não faz nenhum mal;
Depura o sangue e ativa a circulação;
É bom para o funcionamento cerebral.
Bebo todo dia um quartão
E nunca precisei de hospital.
Quando outro papudo vai lhe visitar,
Toma cachaça até com farinha.
Chama o amigo para conversar,
Num canto reservado da cozinha,
Dizendo precisamos comemorar,
Tenho aqui uma branquinha.
Assim, bebe se o time do coração perder,
Bebe também se o time ganhar.
Bebe todas para esquecer
E para as mágoas afogar.
Pede a Deus para a mãe morrer
Para poder se embriagar.
Não pode passar na porta de um bar
Nem ver na sua frente um limão,
Que tem vontade de se encharcar,
Mas não se considera um beberrão.
Diz que bêbado é quem não sabe tomar
E está caído, dormindo no chão.