AUTO RETRATO (EC)
Quem sou eu para de mim falar?
Sou o que escuto outro dizer
quem sou eu? quem me explica?
como haveria eu de saber?
Então se eu contar mentira
um tanto põe, um pouco tira,
assim mais ou menos fica
Venho lá de um século passado
Tempos que o tempo não voava
Satélite no céu, somente a Lua
cansava de brincar na rua
dormia quando a noite chegava
não tenho fé, nem corpo fechado
para onde seguir, decido o lado
Corri muito atrás de bola
mas graças a uma boa cola
saí-me bem lá pela escola
desde pequeno me atrapalho
nasci em mês de dois e sou só um
sobrevivo de meu trabalho
na loteria não ganhei nenhum
Pobre neto de lavadeira
mentiroso pai pescador
quando andava mal vestido
tomei muito chá de cadeira
hoje acho até divertido
saco do bolso uma carteira
mal paro o carro, viro doutor
não sou de provocar ninguém
fico em paz no meu cantinho
mas nem vem que não tem
não mexe com quem tá quietinho
se acenderem meu pavio
vou direto e sem desvio
mando tomarem um navio
Detesto enrolação e ladainha
vida! deixem que cuido da minha
virtude, se tiver, descubra alguém
E veja bem, meu bem
Desculpe-me a sinceridade
para não perder a amizade
não me peça um vintém
Se sou feio ou bonito?
Jamais serei miss simpatia
pra completar: cheio de mania
talvez eu me descubra um dia
quem sou eu para falar de mim
que fique o dito pelo não dito
por ora chega, até logo e fim
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Este texto faz parte do exercício literário
Encanto das Letras – tema Auto Retrato.
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