BOTECO DE FEIRA
É um bêbado fazendo zoada
e outro bêbado cantando.
É uma vitrola tocando
uma música feia danada.
É uma rapariga safada
daquelas bem estradeiras
que usando a bebedeira
depena um pobre coitado,
Velho feio e desdentado
que veio só fazer a feira.
É uma mesa enferrujada
rodeada por quatro cadeiras,
cada uma com mais poeira
e uma com a perna quebrada.
É a foto de uma mulher pelada
sorrindo pra freguesia.
Credo em cruz, ave Maria!
Ai! que tanta confusão.
É polícia atrás de ladrão
que roubou a sacristia.
É um cego chamado João
com um menino remelento.
É um cachorro velho sarnento
se esfregando no balcão,
fedendo que nem o cão,
soltando uma pulga danada.
É uma velha desdentada
com um cachimbo na boca,
brigando com uma louca
que lhe pediu uma bicada.
É freguês cuspindo no chão,
é uma esmoler rogando praga.
Uma quenga que se embriaga
e fala só palavrão.
É fumaça que vem do fogão,
é uma barata na parede.
É um peão matando a sede
num pote que é só grude,
cheio de água do açude,
coberto com um pano de rede.
Isso é boteco de feira.
Ali é o lugar ideal
do bêbado profissional
que bebeu a vida inteira.
E não me venha com besteira
que não há primeiro sem segundo.
Tudo ali é sujo e imundo,
mas não há como negar:
para os bêbados aquilo lá
é o melhor lugar do mundo!
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