A morte da Chiquinha

Vô cuntá o meu intristimento

Nos dia qui fiquei distante

Óia o meu padicimento

Qui vô contá neste instante

A morte min feiz freguês

Tô viúvo outra vez

Está triste o meu sembrante.

A noite quando xeguei

Já cansado do roçado

Oia só o qui incrontei

Na sala no xão deitado

De tanta caxaça bebê

Ela veio logo morrê

Sem isperá eu tê xegado.

Era uma veiz uma muié

A quem mais amei na vida

A Chiquinha de Catulé

Foi uma das mais quirida

Inté meu burro Badaró

Istá triste qui da dó

Nois dois tão sem guarida.

Muita gente bota defeito

Na Chiquinha de Catulé

Ela era ancim do seu jeitio

Mais fazê o quê? Pois é!

Ficano já veio e surrado

Min sinto um pobre coitiado

Só num pirdí minha fé.

Sei quéla era caxaçêra

E essa terra nun tem santa

Fazia lá suas arruacêra

Quando bibia na garganta

Ela min dexô sozin

Tocano o meu cavaquim

Mais isso de que min adianta?

Inté o som qui dele sai

Faiz mina lembrá da Catulé

Nun vô isquecê jamai

Daquela linda muié

Mais num pudeno ficá sozin

Vô percurá outro anjin

E seja lá o qui Deus quizé.

Airam Ribeiro
Enviado por Airam Ribeiro em 25/09/2011
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