Canto Nativo
Na casa do meu cerrado,
tem pote de barro lindo,
na frente jardim florindo,
uma rede armada ao lado
onde dorme o bem amado,
feita de caraguatá...
Tem rapé, tem guaraná,
que bem cedinho é servido
para o amigo, mãe, marido,
do jeito que não tem cá...
Na casa de minha aldeia
tem gamela, tem pilão,
tem canoa, batelão,
lamparina que clareia
nas noites sem lua cheia!
Tem rede armada num canto,
uma flecha no recanto
e beiju com peixe assado,
bastante farinha ao lado,
é tão bela, é um encanto!
Na casa do sertanejo
tem pote, moringa e talha,
tem ponto cruz na toalha,
e tantas coisas que vejo
que agora canto e versejo...
Tem monjolo, tem tear,
tem lenha pra baldear,
tem anzol, vara no canto
uma rede no recanto,
e canário a chilrear...
E tem calor, amizade,
não tem chaves ou ferrolho,
tem quem cate meu piolho,
ama com sinceridade
e me mata de saudade...
Gente simples, solidária,
que entende de culinária,
que carda e fia algodão,
que faz rede, faz cordão,
e de forma originária...
Na aldeia onde já morei
minha casa era singela,
tinha flores na janela,
que jamais esquecerei,
tinha tudo que esperei!
Era simples, pequenina,
cheirava urucum, resina,
e ali vivia contente,
tinha mangueira na frente,
que dava sombra divina!
Vivendo no meu lugar
sou feliz, sinto contente,
tenho a paz sempre presente,
respiro o mais puro ar
e sinto um amor sem par...
Minha casa é simples, pobre
mas é tão bela, tão nobre
com bromélias na varanda
com pé de ipê noutra banda
que o telhado todo encobre...
Minha casa é pequenina
é casa do interior,
seu esteio é luz do amor,
que é também a minha sina
desde os tempos de menina...
Pequenina, mas formosa
vermelho botão de rosa
perfumada, sem igual
não tem começo ou final
e nem cabe nesta prosa...
Nas casas do interior
tem cadeira de balanço,
onde sento e me descanso,
tem flores no exterior,
tem carinho, tem amor...
Tem cadeiras na calçada
do jeitinho que me agrada,
onde me sento e converso
meu olhar longe disperso
bem feliz, tão encantada!
Tem quintal cheio de plantas,
tem manga, goiaba e ata,
logo depois vem a mata
onde pastam gordas antas
tem as águas virgens, santas,
transparentes, geladinhas,
onde banham caboclinhas
quando o sol está a pino,
tudo tem um tom divino,
que parecem mais rainhas!
Na cozinha tem no canto
um tacho com bom melado,
tem fubá, mané pelado,
tudo de bom, eu garanto,
que aqui versejando canto...
Aqui, ali, onde for,
tem-se só carinho e amor...
Tem tucano e maritaca,
e tem chinelo, alpercata,
nas casas do interior...
Tem garapa, tem melado,
batata assada na brasa,
de tudo tem nessa casa,
muito mais no seu puxado,
como já tenho falado...
Tem bolo de arroz com mel,
tem repente, tem cordel,
cantado por gente boa,
que improvisa também loa,
repentista, menestrel!
E meu coração pairava
prenhe de carinho e amor,
sentindo na alma um calor
que nem o vento amainava,
enquanto tudo calava...
Tinha um caboclo cantor
que em mim despertou amor,
tocando viola de cocho,
ali, sentado no mocho
da casa do interior.
Brasília, 31 de Agosto de 2011.
Livro: REALEJO, páginas 85 a 89
Na casa do meu cerrado,
tem pote de barro lindo,
na frente jardim florindo,
uma rede armada ao lado
onde dorme o bem amado,
feita de caraguatá...
Tem rapé, tem guaraná,
que bem cedinho é servido
para o amigo, mãe, marido,
do jeito que não tem cá...
Na casa de minha aldeia
tem gamela, tem pilão,
tem canoa, batelão,
lamparina que clareia
nas noites sem lua cheia!
Tem rede armada num canto,
uma flecha no recanto
e beiju com peixe assado,
bastante farinha ao lado,
é tão bela, é um encanto!
Na casa do sertanejo
tem pote, moringa e talha,
tem ponto cruz na toalha,
e tantas coisas que vejo
que agora canto e versejo...
Tem monjolo, tem tear,
tem lenha pra baldear,
tem anzol, vara no canto
uma rede no recanto,
e canário a chilrear...
E tem calor, amizade,
não tem chaves ou ferrolho,
tem quem cate meu piolho,
ama com sinceridade
e me mata de saudade...
Gente simples, solidária,
que entende de culinária,
que carda e fia algodão,
que faz rede, faz cordão,
e de forma originária...
Na aldeia onde já morei
minha casa era singela,
tinha flores na janela,
que jamais esquecerei,
tinha tudo que esperei!
Era simples, pequenina,
cheirava urucum, resina,
e ali vivia contente,
tinha mangueira na frente,
que dava sombra divina!
Vivendo no meu lugar
sou feliz, sinto contente,
tenho a paz sempre presente,
respiro o mais puro ar
e sinto um amor sem par...
Minha casa é simples, pobre
mas é tão bela, tão nobre
com bromélias na varanda
com pé de ipê noutra banda
que o telhado todo encobre...
Minha casa é pequenina
é casa do interior,
seu esteio é luz do amor,
que é também a minha sina
desde os tempos de menina...
Pequenina, mas formosa
vermelho botão de rosa
perfumada, sem igual
não tem começo ou final
e nem cabe nesta prosa...
Nas casas do interior
tem cadeira de balanço,
onde sento e me descanso,
tem flores no exterior,
tem carinho, tem amor...
Tem cadeiras na calçada
do jeitinho que me agrada,
onde me sento e converso
meu olhar longe disperso
bem feliz, tão encantada!
Tem quintal cheio de plantas,
tem manga, goiaba e ata,
logo depois vem a mata
onde pastam gordas antas
tem as águas virgens, santas,
transparentes, geladinhas,
onde banham caboclinhas
quando o sol está a pino,
tudo tem um tom divino,
que parecem mais rainhas!
Na cozinha tem no canto
um tacho com bom melado,
tem fubá, mané pelado,
tudo de bom, eu garanto,
que aqui versejando canto...
Aqui, ali, onde for,
tem-se só carinho e amor...
Tem tucano e maritaca,
e tem chinelo, alpercata,
nas casas do interior...
Tem garapa, tem melado,
batata assada na brasa,
de tudo tem nessa casa,
muito mais no seu puxado,
como já tenho falado...
Tem bolo de arroz com mel,
tem repente, tem cordel,
cantado por gente boa,
que improvisa também loa,
repentista, menestrel!
E meu coração pairava
prenhe de carinho e amor,
sentindo na alma um calor
que nem o vento amainava,
enquanto tudo calava...
Tinha um caboclo cantor
que em mim despertou amor,
tocando viola de cocho,
ali, sentado no mocho
da casa do interior.
Brasília, 31 de Agosto de 2011.
Livro: REALEJO, páginas 85 a 89