O Caboco e o Delegado

Num tempo distânte

Num cantinho da Paraíba

Criou-se um povoado

Que a lei não esitia

Terra de cabra valente

Que com a faca nos dentes

Não tinha medo de gente

Nem de alma vivente

Pois foi nesse povoado

Que um delegado valente

Quem diria nesse lugar

Ele foi a bitar

Seu nome era Severino

Conhecido como Minan

Cabra valente como ele

Já mais se viu por lá

Ao tomar conhecimento

O prefeito foi falar

Toma cuidado sargento

Que o caboco vai chegar

Ele é forte como um touro

E só pensa em brigar

Com a faca nos dentes

Bota todos pra chorar

O padre também veio

Logo avisar

Seu sargento tome cuidado

Pro céu não ir morar

Reze três Ave Maria

E o Pai Nosso sem cessar

É melhor se confessar

E os seus pecados perdoar

Deixe de tolice seu padre

Que pro xadrez eu vou levar

Esse cabra valente

Que a todos quer enfrentar

O delegado preocupado

Começou a pensar

Foi falar com o cabo

Pra o sujeito espreitar

No sábado de manhã

Na estrada do lugar

O corre corre era grande

O cabra acabará de chegar

Montado em seu cavalo

Vindo a galopar

Com um sorriso nos dentes

Começou a gritar

Nessa cidade não tem homem

Nem delegado pra lutar

O prefeito é chifrudo

Pelos poucos homens do lugar

Seu delegado é um fole

Que tem medo de lutar

Vou comer na sacristia

Da paróquia do lugar

E o tempo foi passando

E o caboco foi crescendo

Esbanjava valentia

Pois a ninguem ele temia

Acostumado a botar

Disordem no lugar

Bebia pinga sem parar

Até a orelha esquentar

Qualquer Maria para ele

Era seu par pra dançar

E os homens sem coragem

Só fazia lamentar

Com sina de chifrudo

E sem coragem pra lutar

Vão perdendo sua Maria

Pra esse cabra abraçar

Só na cachaça aliviava

O sofrimento do lugar

Ia pra casa chormingar

Sem coragem de desfrutar

Dos encantos de sua Maria

De sua curva aproveitar

Se sentindo humilhado

Pelo caboco do lugar

Mas o dia tava chegando

Que o caboco ia entortar

O seu encontro tava marcado

Com o delegado do lugar

Homem sabido e corajoso

Pois pimenta pra serenar

Enterrada na beira do açude

Trinta dias fez passar

Estando ela pronta

Lá foi ele desinterrar

A bicha tava ardida

Que o nariz fez espirrar

A ordem foi dada

Pro cabo avizar

Quando o caboco chegar

O delegado acordar

Sargento se alevante

Que o cabra acabou de entrar

Lá no bar estar bebendo

E a todos insultar

Já falou do prefeito

E do padre sem parar

Até do senhor

Que tenho vergonha até de contar

Vamos lá cabo

Esse caboco enfrentar

Ele num é valente?

Pois hoje ele vai provar

Acontece que o sargento

Também tinha o seu valor

Corajoso e destemido

Ninguem tinha visto por lá

Foi entrando na budega

E o outro a encarar

Chegou tua hora

Pra cadeia vou te levar

Pra mostrar que era valente

As armas fez soltar

E de punhos levantados

Começou a esmurrar

Foi tanta pancadaria

Que do caboco fez ecoar

Um gemido de dor

Um apelo para tudo acabar

Algemado ele foi

Pra cadeia do lugar

Alegando tranferência

Uma viajem fez empregar

Depois de muitas horas

O desfecho a desenrolar

A substância apimentada

Num caboco fez enfiar

Gritando e gemendo

O caboco pois a correr

Até hoje ninguem sabe

Do sujeito no lugar

E naquele povoado

A paz voltou a reinar

Foi mais uma missão

Do sargento do lugar

Sargento destemido

Que a todos fez respeitar

São os contos de Minan

Que eu passo a contar

Com alegria e com vontade

Para a sua vida espelhar

A vida de outras pessoas

E a todos encantar

Everaldo da Silva
Enviado por Everaldo da Silva em 26/08/2011
Código do texto: T3184249
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