Saga de um matuto nordestino
José Feitosa da Silva
(JFeitosa)
TRANSLITERADO
Sô do Nordeste sim sinhor
Aquele que o sinhor isola!
Aqui tenho minha famia
Minha muier me adora.
Não seio falar direito
Porque não fui à escola.
Me criei nessa peleja
Trabaiano todo dia
O recurso que aqui chega
Só pela graça divina
De tudo farta um poquinho
De saúde a inergia.
Só não farta educação
Porque meu pai me insinou
E ele tinha razão
Porque herdou do vovô
Orgulho dessa famia
Formada de agricultor.
Todo mundo aqui trabaia
Mais trabaia cum prazer
Porque é aqui da roça
Que tiramo o que cumer
E quando sobra um poquinho
Levamo para vender.
Somu muito diferente
De você que é doutô
Além de ser nordestino
Moramo no interior
E vocês que é da cidade
Disconhece o valor.
Vocês aí tem de tudo
Carro novo e importado
Emprego sem trabaiar
Dado pelos deputados
Que ofereceu em troca
Do voto que lhe foi dado
Ta veno eu?... Seu douto.
Você aí de gravata!
Já seio o seu apelidio
É um tá de magnata
Que ganha muito dinheiro
E não faz é quage nada.
Somu muito diferente.
Da maneira de pensar!
Sô matuto e nordestino
Mais gosto de trabaiar
E trabaio honestamente
Para meu nome honrar.
Sabe quem eu sou?... Seu doutô.
- Sou aquele, que o sinhor não conhece!
Moro no interior
E sou fio do nordeste
Conheço nosso Senhor
E pra Ele faço prece.
Não devo nada a ninguém!
Durmo cedo e bem tranqüilo
No outro dia me acordo
Abençoano os meus fios
Vou pra roça trabaiar
Cum força feito um nuvio.
Tudo pra mim é prazer!
Não ligo cum quage nada
Mais tenho um disgosto inorme
Na mente bem incravada
Que a caneta que pegu
É um tal cabo de enxada.
Mais mermo assim me conforto
Pelas graças do Senhor
Ando de cabeça erguida
Nos lugares aonde vou
Se precisar assinar
Meto o dedo com amor!
Este dedo representa
O ome que aqui fala!
Que trabaia cumo burro
Tem as mãos encalejadas
Que mora no pé da serra
Mais tem vergonha na cara!