ANOITECER NO SERTÃO
ANOITECER NO SERTÃO
ONILDO BARBOSA
Quem quiser ver poesia
Anoiteça no sertão
Prá ver um final de um dia
Repleto de emoção
O sol se escondendo a pouco,
Um carcará grita rouco
Por cima da cumeeira,
Deixando um eco no espasso
E o vaqueiro guarda o laço
Por tras dos paus da porteira.
O sol bem avermelhado
Se escondendo atras da serra
Parece até DEUS, zangado
Botando fôgo na terra
As núvens ficam cinzentas
As abelhas barulhentas
Se escondem no gravatá,
E o cancão cheio de orgulho
Grita fazendo barulho
Insultando o sabiá.
As folhas secas do chão
Se arrastam lentamente,
Em meio à escuridão,
Canta a coruja dolente
O gavião forasteiro
Bate asas no Oqueiro
Querendo se agasalhar,
Ao tatús fogem das furnas
Em qabto as aves noturnas
Procuram se alimentar.
A filha dofazendeiro
Deixa o rádio em sintonia
Para ouvir a melodia
Do cantador violeiro
Bem no final da tardinha
O sino da capelia
TOca uma AVE MARIA,
O padre faz uma prece,
Enquanto a lua aparece
Bonita igualmente o dia.
De ouve a voz do vaqueiro
No seu jeieto de aboiar,
Na casa do fazendeiro
Já é hora do jantar,
A mesa jáestá forrada
Com cuscús e carne assada
Macaxeira, queijo, pão,
E a família reunida,
Só pôe a mão na comida,
Depois de uma oração.
A meia noite se escuta
Um som de um canto dolente,
A vóz de um sapo na gruta,
Anunciando a enchente
A lua vai se escondendo,
O galo canta dizendo
Que já é de madrugada,
Muge a vaca no curral,
E o vento traz do quintal
Cheiro de terra molhada.
Quem está acustumado
Assistir televisão
Vai ficar adimirado
Se anoitecer no sertão
Ao invés do som barulhento
Dos carros em movimentos
Estremecendoo telhado,
Vai sonhar no travesseiro,
Com o vento trazendo o cheiro
Que vem do curral do gado.
Tem filhinho de papai,
Que pasa a noite drogado
E quando de casa sai,
È prá fazer algo errado
Atira pedra em vidraça
Ameaçando a quem passa
As vezes matando gente,
Passe uma noite na roça
Durmindo numa palhoça
Prá ver como é diferente.!
Já o rapaz do sertão,
Ler a bíblia, reza terço
Trata bem ao cidadão,
Tem educação de berço
Dá boa noite, bom dia,
Numa linguagem sadia,
Tras um respeito profundo,
A todos tem amisade,
Cresce semir à cidade
Com medo de vagabundo.
Lá no sertão nossa moda
Não é TV. Nem cinema
Asmoças brincam de roda,
O rapaz conta um poema,
E entre aqueles convidados,
Um casal de namorados,
Conversam fazendo planos,
Com tanto procedimento,
Que dalí sai casamento
Que dura 50 anos.
Do casamento a origem,
No sertão tem um critério:
A moça tem que ser virgem.
O rapaz tem que ser sério
Respeitar as alianças,
Na presença das crianças
Tem que namorar direito,
Toda educação é pouca
Nem pode beijar na boca
Prá não faltar com respeito.
Quando você se cançar,
Do mal, da hipocrizia
Vá visitar meu lugar,
Passar com a gente um dia!
Provar do sarapatel,
Da rapadura, do mel,
Cabrito assado, feijão,
Tomar banho de repreza,
Sentir de perto a beleza
Das coisas do meu sertão.
O amanhecer é lindo
Na casa do fazendeiro
A gente se acorda ouvindo
O abôio do vaqueiro
O sol vai aparecendo,
E o carro de bôi gemendo
Na subida da ladeira,
Fazendo um som tão bonito
Que se parece um bendito
Na vóz de uma benzedeira.
O vento trazendo o cheiro
Da flora do araçá,
Na copa do juazeiro
Se escuta o sabiá,
Dentro da mata verdosa
A alfazema cheirosa
Tras um álito diferente
Que em meioo aquele verdume,
Dá impressão que o perfume
Está na pele da gente.
Se coloca na bacia
Num banquinho no oitão,
Um pouco de água fria
Tirada do cacimbão
Depois dew banhar o rosto,
O sertanejo disposto
Toma um café reforçado
Vai pastorar o rebanho,
Meio dia toma um banho
No açude do sercado.
E assim o sertanejo,
Vai vivendo o dia a dia,
Pode lhe flatar dinheiro
Mas não lhe falta alegria,
O que faltar na fazenda
Ele vai buscar na venda,
Paga em dia ao bodegueir,
Faz dp orgulho um imperio
Caráter de Homem sério
Não se com prá com dinheiro.
FIM.
Janeiro de 1997