SAUDADE É COISA BOA.

( I )

Confesso tenho saudades,

Dos tempos de vaquejadas,

Do caboclo nordestino,

Do cantador de toadas,

Do churrasco caipira,

Junto às rodas de catira,

Nas noites enluaradas.

( II )

Confesso sinto saudades,

Do berrante chorador,

Do velho fogão a lenha,

Dos causos de meu avô,

Das brincadeiras de roda,

Que hoje caíram da moda,

E dos bailes de pierrô.

( III )

Confesso tenho saudades,

Do antigo candeeiro,

Dos contadores de histórias,

Das fogueiras no terreiro,

Do milho assado na brasa,

E as festas feitas em casa,

Dos famosos sanfoneiros.

( IV )

Confesso sinto saudades,

Do pão comprado na venda,

Do gostoso chá de burro,

Das danças de pagar prendas,

E as rodas de chimarrão,

E os fandangos no galpão,

Os torneios na fazenda.

( V )

Confesso tenho saudades,

Dos banhos do riachão,

Das rodas de violeiros,

Das colheitas de algodão,

De cavalgar sobre a cela,

Vendo as moças na janela,

Derretendo o coração.

( VI )

Confesso sinto saudades,

De quando a vizinhança,

Uniam-se em mutirão,

Sem pensar na tal finança,

Em trabalhos voluntários,

À tarde no fim de horário,

Descansavam na festança.

( VII )

Confesso tenho saudades,

Dos vaqueiros arrojados,

Vestidos em seus gibões,

Embrenhavam-se no serrado,

Campeando o dia inteiro,

A caçar o mandingueiro,

No matagal entocado.

( VIII )

Confesso sinto saudades,

Das caminhadas nas matas,

Do velho carro de bois,

Das belezas das cascatas,

Do ronco das cachoeiras,

E o balanço das peneiras,

Do molejo das mulatas.

( IX )

Confesso tenho saudades,

Da minha pequena escola,

Lá num canto da cidade,

Do humilde bate bolas,

Nas noites de lua cheia,

No campinho de areia,

Brincando até altas horas.

( X )

Confesso sinto saudades,

Do rangido das cancelas,

Do verde das plantações,

E o farofão na gamela,

Do meu cantinho na roça,

Dos passeios de carroças,

Da minha musa Gabriela.

( XI )

Confesso tenho saudades,

Do cantar da seriema,

Da flautinha de bambu,

Da matinê no cinema,

Do estouro da boiada,

E o cheiro da terra suada,

Do xaveco de uma prenda.

( XII )

Eu por aqui vou ficando,

Preso por essas saudades,

Envolvido nas lembranças,

Que me traz felicidades,

Pra vida isso faz bem,

É algo que todos têm,

Não leia se não for verdade.

01/05/2011.

CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 02/05/2011
Código do texto: T2944445
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.