USUFRUIR DO SERVIÇO PARA DEPOIS NÃO PAGAR

USUFRUIR DO SERVIÇO

PARA DEPOIS NÃO PAGAR

Baseado em relato de Aurélio Aires

Mote e Glosa de Marcos Medeiros

Revelou-me Aurélio Aires

Uma história de lascar

Que com ele aconteceu

Ao fazer processo andar

Quando veio alguém sem viço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

O perigo é virar moda

Pra quem vender ou alugar

E o trambiqueiro dizer

Que já cansou de comprar

E na conta por enguiço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Imagine viver sempre

Com sua bolsa a rodar

E depois de tudo feito

Nada, nadinha, lucrar

É melhor fazer feitiço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Curtir a noite inteirinha

No botequim conversar

Fazer pose de bem rico

E ao ver a conta chegar

Dizer que não sabe disso

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Assistir ao futebol

A partida comentar

Pedir dinheiro emprestado

Para a cerveja tomar

Engordar, ficar roliço,

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Topar tudo que é passeio

Andar muito e turistar

Desfilar de terno alheio

Fingindo ter pra gastar

Achar nada demais nisso

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Dar cantada na mocinha

Quando a patroa faltar

Querer comer doce novo

Pra sua vida adoçar

Se lambuzar no chouriço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Pedir emprestado anzol

Para no rio pescar

Seguir para o restaurante

E o peixe mandar fritar

Sem ter sequer um caniço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Ficar calmo enquanto bebe

Relaxado ao petiscar

Mostrar um ar de cansaço

Em função de trabalhar

Mas fazer um reboliço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Na fazenda tomar leite

Em pleno dia a raiar

Pegar ficha em vaquejada

Para o boi vir derrubar

Sem ter qualquer compromisso

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Pegar a Belém – Brasília

No Pantanal navegar

Comer um pacu assado

Encher bucho e arrotar

Falar pra não ser omisso

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

No parque de diversões

Ter passaporte e brincar

Utilizar os brinquedos

Em todo e qualquer lugar

Então fingir de mortiço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Alugar a cobertura

Com visão linda pro mar

Passear de jet ski

Ver a morena e babar

Ostentar qual fronteiriço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Ir no sertão extrair

Umbu de sabor sem par

Milho verde pra canjica

Feijão verde a esbanjar

Mel de abelha no cortiço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Viajar para o Tibet

No mosteiro meditar

Degustar muita iguaria

No almoço e no jantar

Dizer que já foi noviço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Contratar um avião

A fim de sobrevoar

O vale verde alagado

Com bichos a resgatar

Fugir desse alagadiço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Participar de safári

Receber arma e caçar

Ver crocodilo africano

Sair d’água pra esquentar

Espreguiçar-se cediço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Ter curso superior

Na escola particular

Publicar dezesseis livros

Contratando pra editar

Esconder-se no folhiço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Fechar bordel numa noite

Para poder comandar

Três prostitutas na cama

Pra Kama Sutra invejar

Considerar-se castiço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Pegar um jato e partir

Na direção de além mar

Voltar no dia que quer

Depois de muito gastar

Da conta pedir sumiço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Passar dias num SPA

Visando desengordar

Cruzando com cem dondocas

Para dos quilos livrar

Sair de lá bem magriço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Contrair o matrimônio

com sogro a patrocinar

festejar duas semanas

no Estreito de Gibraltar

e no fim faltar toitiço

usufruir do serviço

para depois não pagar

Qualquer dia chega a vez

De alguém vir a descontar

Dar golpe com maestria

Seu bolso vindo a furar

E ao consumir seu maciço

Usufruir do serviço

Para depois não pagar

Mostrando situações

eu quis aqui revelar

que a pessoa em questão

vivendo de trambicar

vai cair por fazer isso:

usufruir do serviço

para depois não pagar.