AS SÚPLICAS DE UM POETA

I

Vos peço Senhor, que me guie agora,

Nas palavras que saem da minha boca,

Que fale o silêncio, não minha voz rouca

E que a vós o teu perdão implora,

Desde hoje e sempre, como em outrora,

Neste meu sentimento quão sofrido,

Desses erros, que tenho cometido,

Onde quem mais sofre é o meu coração,

Eu venho, a vós, pedir-lhe perdão

Por isso, aqui, suplico arrependido!

II

Busco cumprir, por este mandamento,

Que é todo em decassílabo feito,

Onde procuro agora, ser perfeito

Pra ajeitar meu direcionamento,

Quando chegar a verve, no momento.

Vou seguindo a metrificada trilha,

Pois sinto que minh’alma toda brilha,

Querendo criar a minha canção;

Que pode até servir como oração,

Posto que sou poeta, jamais ilha.

III

Não consigo cumprir Teus Mandamentos

E passo em decassílabo a escrever,

Ando a duvidar até do meu crer,

E assim, tenho vivido alguns tormentos,

Eu vos peço, meu Senhor, os teus alentos.

Pois desacredito na lei humana,

Posto que, ela, a todos nos engana,

Criada em detrimento só de alguns,

Ficam de fora as pessoas comuns,

E o poderoso pousa de bacana.

IV

Eis, em decassílabo, o meu poema,

Pra ver se encontro algum discernimento,

Em nome de meu fértil sentimento,

Afirmando de vez o meu dilema,

Que vós, Senhor, meu Deus, és o meu tema.

Por só acreditar em Ti demais

Indo contra mim, menos aos rivais,

Porque vós sabeis todos meus caminhos,

Em que vaguei, semeando os espinhos,

Assemelhando-me aos marginais.

V

Não matei, não roubei, mas desejei...

Coisas boas e nocivas pra mim,

Sem receio de nada do meu fim,

Tenho consciência de que pequei,

Estou na dúvida do Sei e Não sei.

Vejo que tenho toda liberdade,

Porém, nem toda beleza é beldade,

Para ser, sentir, pensar e agir

Andei caminho que eu quis seguir,

E me vi cercado pela maldade.

VI

E confesso Senhor, que meu pecado,

Parte da minha própria consciência,

Pois sei, que vós, tereis de mim clemência,

Do bem que faço, mesmo sendo errado,

Assim erro, achando que fui curado.

Pois em Ti, vivo perdido na fé,

Quão ciente de quem sabe o quer,

E saio em busca doutra solução,

Às vezes, caindo na perdição,

Quão perdidos, andam homem e mulher.

VII

Se dos homens consigo me ocultar,

Mas aos teus olhos, vivo grande engano,

Vós sabeis até do meu próprio plano,

Assim, vou seguindo sem hesitar,

Sem medo de que terei que pagar.

Senhor Meu, se eu fiz algum juramento,

Foi pelo quão infindo desalento,

Me perdoe o vacilo da memória,

Porque sou poeta e vivo de estória

Vos peço, atenuai, o meu lamento!

VIII

Como poeta, sou representante

Da dorida alma do meu irmão,

A minha poesia se faz canção,

E cuida da alma dilacerante,

Onde sua dor tirânica é imperante.

Neste grande palco que é a vida,

Poeta doa-se como guarida,

Assim, se torna um grande fingidor,

Finge completamente como ator,

Para curar de todos, a ferida.

IX

Os que por ti juraram, questiono,

Que vivem a tua palavra pregando,

E cinicamente vivem negando,

Parecem viver num eterno sono,

Hipocritamente, por desconhecer o dono.

De tudo que é existente na terra

Por fazerem, enfim, a própria guerra,

Não dão sequer a menor importância,

E todos vivem em completa arrogância,

Onde o não-cristão é quem menos erra?

X

Do pó viemos, pó retornaremos,

E o pó é tá sempre poetando,

Pois, encaram a sua morte cantando,

Talvez, a razão naquilo que cremos,

E por sermos humanos - medo temos

Omitindo na arte sem temor,

Perscrutar das essências o seu valor,

Moldamos a palavra com beleza,

Pois é própria da nossa natureza,

Semear à humanidade o amor!

XI

Nós somos verdadeiros menestréis

Ou mesmo, dizendo, somos poetas,

Favor, não nos confundir com profetas,

Pois estes assumem outros papéis,

Diante Deus e homem são fiéis.

Porém, muitos entram em contradição,

Por isso, Deus conhece o coração

De quem vive o profano, não sagrado,

Semeando o perdão, mas no pecado

De todos que cometem traição.

XII

Me deste saber das coisas do mundo

E desvendei que tudo era ilusão,

Onde o real era só ficção,

E me vi cada vez meditabundo,

Aí, caí, num baixo astral profundo.

E não mais acreditei em ninguém

Mas, temos que acreditar em alguém,

Maldito, quem acredita no homem!

De repente, lembrei de vosso nome:

Eis então, meu Pai, minha Mãe, amém!

XIII

E não é fácil encontrar um amigo,

Quando pra tudo o que vale é dinheiro,

Quase sempre aparece o interesseiro,

Quão irônico, logo oferece abrigo,

Verdadeiro joio e não puro trigo.

Mas, nos encontros das afinidades,

Deslocados de qualquer falsidades,

Temos amigos no campo da arte,

Todos da terra e não vindo de Marte,

Com as suas peculiaridades.

XIV

De tudo, que por aqui já passei,

Duma coisa tenho pura certeza,

Porque vivi conforme a natureza,

A qual nos fez nosso Bondoso Rei,

Onde nem tudo que fiz, acertei.

Então, procurarei não mais errar,

Pois assim, com meu Deus, tudo acertar,

Pedirei a Ele sabedoria,

Para florir mais e mais o meu dia,

Para em meu peito brotar o amar.

XV

As palavras, Deus, quero agradecer,

Que fluiriam quão bem da minha mente,

Sábia árvore, genuína semente,

Fostes Vós que fizestes florescer,

E assim, fazeis quão belo o meu viver.

Sei que toda inspiração é Divina,

Razão, pela qual, meu ser se atina,

Pois brota do universo e do além,

De Deus criador, seu filho também,

Que traçam na terra o caminho e a sina.

XVI

Eis que a minha inspiração desse intento

Trata-se, pois, de grande desafio,

Em que venho tecendo fio a fio,

As coisas que estão no meu pensamento,

Bem vindas direto do firmamento,

Do Pai Eterno que tudo criou,

Divino Senhor, que tudo formou,

Inclusive, eu, errante poeta,

Um plagiador da vida, um esteta

Que nem, agora, o poema gerou.

23/12/2008