FILHO DA MÃE
O médium em transe disse:
-Um não é filho do pai!
Balançou meu coração;
É hoje que a casa cai,
Minha mãe é uma santa,
Nem suspeita ela levanta
De ter traído papai.
Não podia acreditar
Naquele médium de araque,
Que tinha uns tremeliques
E falava com sotaque.
Vi a minha mãe na cama,
De puta ganhando fama,
Quis partir para o ataque.
Mas o cara era valente,
Puxou logo uma peixeira,
Tremi na base na hora,
Disse: - To de brincadeira!
Acabou a minha paz;
Saí dali fui atrás
Da historia verdadeira.
Questionei os meus irmãos,
Ninguém sabia de nada,
A mãe vendo aquele assédio
Ficou bem ressabiada,
Papai tinha falecido;
Teria sido traído?
Ou o médium fez piada?
Por muito tempo eu vivi
Com a pulga atrás da orelha;
Quem é o filho da mãe
Que ao papai não se assemelha?
Desconfiava de um,
Não era igual a nenhum,
Tinha a pele mais vermelha.
A mãe percebendo aquilo
Teve um surto, passou mal,
Chamou por todos os filhos
Já na cama do hospital,
Resolveu abrir o jogo
Que queimava como fogo
Na lisura da moral.
Olho no olho me disse:
- Um de vocês é bastardo,
Filho do seu próprio tio,
Gêmeo do papai Leonardo.
Como eu já vou indo embora,
Tava mais do que na hora
De descansar desse “fardo”.
O sangue subiu na hora,
Filho da mãe! Eu pensei.
Abusou da coitadinha,
Safado! Fora da lei!
Fez ela guardar segredo,
Viver morrendo de medo;
Ali mesmo então chorei.
Se queres tanto a verdade
Então hoje é o dia D;
Um dia fui violentada,
Disso nasceu um bebê,
Teu pai passou a ser tio,
Mas eu nunca dei um pio,
Esse meu filho é você.