A Flor do Bairro

Eu vou contar uma história

Que aqui já foi contada

Se não me falta a memória

Ela não foi inventada

O sujeito atingiu a gloria

Sem precisar de cantada.

Vizinho de uma fada

Esposa de um barbeiro

Com saia curta encarnada

Cobrindo o lindo pandeiro

E por cima a danada

Tinha seu jeito faceiro.

O pobre do Val Mineiro

Queria tocar no samba

Pensava que o dinheiro

Do querer ele descamba

Falou pra o mundo inteiro

Que no assunto era bamba.

Mesmo que o boi o lamba

Essa mulher ele queria

Com o poder da riamba

O marido ele compraria,

Pois da droga era bamba

E o dono da putaria.

De paixão ele morreria

Se não matasse o desejo

Queria porque queria

Sonhando sentia lampejos

Dos braços de dona Maria

E dos lábios os seus beijos.

Sonhava comendo o queijo

Manteiga nata e qualhada

Enquanto no caranguejo

Bem em baixo da sonhada

Estava todo o ensejo

De sua vontade tarada

Pensou numa boa jogada

Que a deixasse sem saída

Para dá uma chifrada

Uma vez e repetidas

Em quem com as navalhadas

Deixava as caras lambidas.

Chegou perto da querida

Com grande cara de pau

Prometeu até a sua vida

Se ela não levasse a mal

E não ficasse ressentida

Tal e coisa e coisa e tal

Ela disse meu lindo Val

Sua vontade não revogo

É a última pá de cal

Pois é assim que eu jogo

Dando-lhe o meu aval

Mais, por favor, vamos logo

Da batalha não me folgo

Nem me dou por satisfeita

O Senhor é o geólogo

Que me fazia desfeita

Mas agora homologo

A única que não foi feita...

Miguel Jacó

O cabra ficou atônito,

Com aquela decisão,

A doma bem despachada,

Agarrou-lhe pela mão,

Disse agora tu me come,

Ou arranco teus culhoes.