SERTÃO MODERNO
1Terra adusta, ressequida,
assim foi a minha terra;
mas, onde o homem não erra,
vencem ações criativas
– se bem formos persistentes,
e mais, cantando as cantigas.
2 Neste Nordeste de agora,
já nos verdeja a ternura;
pois, mesmo havendo secura,
dá tudo o que o povo planta;
e o povo planta esperança,
tanto mais sofre e mais canta.
3 Onde já foi sertão bravo,
hoje, mudou totalmente,
e, quem vê sertão, pressente
que a coisa ficou moderna;
só prospera a mão do novo
– das antigas nem a perna.
4 Nas praias, sertões e serras,
aos tons do grande progresso,
canta-se o cantar que meço
na voz risonha dos pobres,
rimando versos medidos,
em redondilhas mui nobres.
5 Aqui, com toda expressão,
grita a voz do passaredo,
o canto alegre e sem medo
dos nossos bons violeiros
e dos vaqueiros o aboio,
e os baiões dos sanfoneiros.
6 Aqui, pois, modéstia à parte,
temos alegres posturas
e, se passamos agruras,
também nós temos encantos,
e a mãe-natureza aplaude
os entoos dos nossos cantos.
7 Coberto de parabólicas,
este o chão do nordestino,
onde o sol nos bate a pino,
como um rei demais tirano,
e a todo vapor novelas,
e internet a todo o pano.
8 Até mesmo as eleições
tomaram rumos diversos;
hoje, os “coronéis”, dispersos,
não mandam como reinavam;
você vota mais a jeito
– cabrestos só emperravam.
9 Será Nordeste o moderno?
Nem tanto... Norte um cercado!
Gente, lá, que nem um gado,
inda a votar nuns “currais”,
mas torço que saiam disto,
que, em tese, somos iguais.
Fort., 16/09/2010.
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Lançamento: “Dicionário de expressões populares
da língua portuguesa”, 978 pp.
Autor: João Gomes da Silveira
Editora: WMF Martins Fontes, SP, 2010
Acesse: www.wmfmartinsfontes.com.br
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