A RECEITA MÉDICA (poema matuto)

Dotô eu vortei aqui

Pra vosmicê traduzi

Tudo qui aqui iscreveu,

Pois inté quem sabe lê

Num consiguiu intendê

E o papé me devorveu.

Ocê é intiligente,

Tira coração de gente,

Bota ôtro, faz batê,

Mai eu vô li preguntá:

Cuma pôde se foimá

Sem aprendê iscrevê?

Riscô essa garranchera,

Saí logo nas carrera

Pra meu remeido ir comprá,

O farmacero ispiô,

Munto tempo arreparô

E num sôbe dicifrá.

Quando pegô a receita

Dixe: - que coisa má feita,

Intendê num tem quem possa!

Isso aqui é comparado

Cuns garranchos ispaiado

Quando a gente faz a roça!

Nunca istudei, num sei lê,

Tombém num sei iscrevê,

Má eu falo meu indioma,

São essas as minhas faia

E ocê merece gangaia

No lugá do seu diproma.

Me diga pru gentileza

Pru que é essa safadeza

De iscrevê só desse jeito?

Fique sabeno o sinhô,

Se eu pudesse sê dotô

Eu num tinha esse defeito.

O qui adianta aprendê

Mode dispois num fazê

Do jeito cuma aprendeu?

Pois eu li digo a verdade,

Sua força de vontade

De forma arguma valeu.

Se o dotô sabe iscrevê,

Iscreva qui dê pra lê,

Mostre qui é bem istudado,

Fique o dotô conheceno:

Só faz um erro sabeno

Quem já qué fazê errado!

Hélio Leite
Enviado por Hélio Leite em 05/09/2010
Código do texto: T2480014
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