AMOR CONFLITUOSO

Vens a mim, me fazes mimo,

mas logo a boca achincalha;

suporto e não desanimo,

que já te ponho a cangalha.

Pois há mulo que não zela

por vida menos escrava,

e não se dá bem com a sela

– prefere a madeira brava.

Com teus maus bofes de mu,

temperamental, então,

mulher jegue, que nem tu,

não se prende a ter noção.

Tu tens no topo postiço,

como feito de cimento,

um bloco pétreo maciço,

sem um grau de sentimento.

Não rejeito, mas duvido

do que tu chamas de amor,

que o bem de brigas surtido

é muito mais um terror.

Mil vezes já se tem dito:

relação que só maltrata,

que se sustenta em conflito

é o próprio caos que retrata.

Tento a paz, brigo por ela,

de novo te botas sonsa;

então, caio na esparrela,

em ti me esqueço da onça.

Sem te dares por vencida,

mais abres guerras a mim,

só pra veres minha vida

numa enrascada sem fim.

E te jactas molestando

a mesma pessoa tua;

conflituosa, desde quando

no teu amor sentas pua.

Isto é que se diz sadismo

– amor em brigas selado,

sem um pingo de lirismo,

xingações de lado a lado.

Fort., 25/08/2010.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 25/08/2010
Reeditado em 25/08/2010
Código do texto: T2459186
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