TIO EMÍLIO: SÍMBOLO DE HUMILDADE E APOIO AOS VIOLEIROS NO RIO GRANDE DO NORTE
TIO EMÍLIO
Emílio Félix de Andrade,
Um paraibano nato,
Veio para o Seridó
Inda menino, de fato.
Foi morar em São Fernando
Onde crescia brincando
No sítio, perto do mato.
Vivendo em meio pacato,
Em Serra Negra morou,
Conheceu campo e cidade,
Onde se alfabetizou.
Menino, ainda pequeno,
Transformou-se em cristão pleno,
Quando ali se batizou.
Mesmo mais novo, cuidou
Da sua irmã Estelita,
Mostrando toda atenção
Para sua mana Elita
Que, não por coincidência,
É mamãe, por Providência
E destinação bendita.
Portanto, autor desta escrita
Sou, na verdade, sobrinho
Daquele que aqui descrevo
E relembro com carinho,
Quando em Santana do Matos
Pude ver os seus bons tratos
Com um parente ou vizinho.
Acordava bem cedinho
E São Paulo era a fazenda
Onde, Maria e Dodó,
Meus avós, tiravam renda
E tio Emílio apoiava
Ao tempo que organizava
cantoria na vivenda.
Conta-se até de uma prenda,
Que certa feita ocorreu,
Quando o bom Chico Valério
Perdeu um palitó seu
E Emílio compadecido
Tirou dinheiro escondido
E outro terno lhe deu.
Chico nunca se esqueceu
Daquele gesto de amor.
Compôs bem secretamente
Um poema em seu louvor,
Feito todo em pé quebrado,
Com Pelo Sinal levado
Àquele seu benfeitor.
Este fato de valor
Contou Américo Pita,
De uma forma verdadeira,
Que todo mundo acredita,
Pois tudo que foi narrado
Foi, por outros, confirmado,
Em cada nuance dita.
Tendo amizade irrestrita,
Nunca posou de grã-fino,
Respeitava a todo mundo,
De mulher até menino,
Estirando ao camarada
A mão desinteressada,
Segundo disse Corsino.
Abaixo disso eu assino,
Pois pude ver romaria
Seguindo meu nobre tio
Quando nos bares bebia,
Pagando pra todo mundo,
Demonstrando o mais profundo
Contentar na companhia.
Mas fase adulta viria
E pudera conhecer
O seu amor na Varzinha,
Para ter novo viver,
Junto a Raimunda Barbosa,
Que completou sua glosa,
Com cada filho a nascer.
Rosângela veio ver
Aquele mundo encantado,
Rosânia veio em seguida,
Para provar seu bocado,
Com Everaldo e Erasmo
E com meu tio, mais pasmo,
vendo Rosiana a seu lado.
Teve que lutar dobrado,
Indo morar na cidade,
Instado pelos amigos,
Testou a capacidade
E após a candidatura
Conseguiu legislatura
Na casa da edilidade.
Não teve dificuldade
Numa primeira gestão,
Mesmo que só procurasse
Ser um simples cidadão.
Talvez, por este motivo,
Não tenha seguido ativo
Numa próxima eleição.
Sem ter qualquer ambição,
Via seus filhos crescendo.
Raimunda batalhadora,
Na escola ia tecendo
O futuro das crianças,
Pautado em mil esperanças
Que Deus estivesse vendo.
Parece que estou revendo,
Rosângela ao concluir
Os estudos em Santana
E precisar prosseguir.
Raimunda vendo em Natal
A sua rota final,
Mas ele sem querer ir.
Nunca pensara em partir
Da terra que ele adotara.
Preferia o seu quintal,
Todo cercado de vara,
Do que viver espremido,
Pelo concreto oprimido,
Sem nada do que sonhara.
Considerava mais cara
A transferência iminente.
Era poeta do povo,
Sentindo o cheiro de gente,
E o que mais assustava
Era levar vida escrava
Daquele instante pra frente.
Mas Jesus Onipotente
Concedeu outros recursos
E por estes outros meios
Os filhos fizeram cursos.
Raimunda foi transferida
E assim levaram outra vida
Bem diferente em percursos.
Surgiram novos concursos
E ele o mesmo consigo
Passando jogo de bicho
Tendo o tempo como amigo.
Das vacas gordas lembrando,
Com muita gente abraçando,
No tempo que tinha o trigo
No entanto tendo um abrigo
E a família ao seu redor,
Sabia as causas de tudo,
Sem nem pensar no pior,
E mesmo, ante a doença,
Tinha bastante presença
De um espírito maior.
A sua parte melhor
Continuava integral.
Era a divina bondade
Guardada em seu ideal,
De a todo mundo servir,
Sem ter que nada pedir
E nunca ser desleal.
Quero dizer que, afinal,
Deu exemplo a ser seguido.
Deixou com sua postura
O que mais valeu ter tido:
Um tesouro de verdade,
Cheio de sinceridade,
E por Deus abastecido.
O seu título remido,
Não foi trocado em dinheiro,
Foi o sonho de um poeta,
Do nordeste brasileiro,
Que nunca esqueceu dos campos,
Do luzir dos pirilampos
E do amigo violeiro.