Comício em dia nublado
Tem gente querendo ganhar
A eleição de qualquer jeito,
Desmancha o que estar feito,
Promete o que não pode dar,
Tem um que prometeu comprar,
Um grande pedaço da lua,
Somente pra uma rua
Toda noite iluminar,
Quando de uma chuvinha
Leve como pedra pome,
Pra mulher eu dou sombrinha
E pago a capa dos homens.
Dá óculos e dentadura,
Às vezes aproveitadas
De alma desencarnada,
Tirada da sepultura
Onde estava enterrada,
A outros dão rapadura
Banana podre e madura,
Depois de bem embalada,
Se a chuva se avizinha,
Diz logo esqueçam a fome,
Pra mulher eu dou sombrinha
E pago a capa dos homens.
Se ele for mui bem votado,
Prometendo logo fazer,
Ladeira só para descer,
Pro velho pobre cansado,
Será bem aproveitado
Pelo povo todo também,
Não tendo subida ninguém,
Vai se sentir acabado,
Se a chuva vier sozinha
Ou com raios não embrome,
Pra mulher eu dou sombrinha
E pago a capa dos homens.
Tijolo, pedra e cimento
E algumas cestas básicas,
Nomeadas democráticas,
Com muito descaramento,
Por um cérebro de vento,
De cabeça acrobática,
É só isto que lamento,
Não sendo tecnocrática,
Não entendendo nadinha,
Se a chuva chegar ele some,
Pra mulher eu dou sombrinha
E pago a capa dos homens.
Eu acho belas as promessas
E por aqui eu vou ficando,
Mas vou logo avisando,
Não caio mais numa dessa,
Se um porco vi capando,
O pobre sofreu a bessa,
Não vou ficar esperando
A faca que atravessa,
Aquelas duas bolinhas...
Se deixar ele consome,
Pra mulher ele dá sombrinha
E paga a capa dos homens.
Obs: a capa pode não ser um substantivo.