“MENINO DE RUA”

Sou um menino de rua,
Sem família sem um lar,
Exposto ao sofrimento,
Nas ruas fico a vaguear,
Sem futuro, só presente,
Com 8 anos somente,
Tenho que me sustentar.

Vivo nas ruas da cidade,
De porta em porta a bater,
Passando medo e fome,
Sem ter a onde comer,
Sempre durmo no relento,
Exposto ao frio todo tempo,
Ninguém vem proteger.

Por vezes sou obrigado,
Em lugares me esconder,
Das gangues e marginais,
Escondo-me pra ninguém ver,
Passo a vida de voluto,
Em baixo de viadutos,
Pra tentar sobreviver.

Meus pés vivem calejados,
De percorrer esse chão,
Nos becos pelos valados,
Cubro-me com papelão,
Reviro caixas de lixo,
Pondo minha vida em risco,
Por um pedaço de pão.

As vezes fico doente,
Sinto dores e arrepios,
A contar com Deus somente,
Para me aquecer do frio,
Vestido em surrados trapos,
Desse mundo imundo ingrato,
De um chão chamado Brasil.

Já perdi até as contas,
Das noites que adormeço,
Sem ter nada pra comer,
Com os olhos secos amanheço,
A barriga no espinhaço,
Isto foi no mês de março,
Olha que é só o começo.

Um dia senti vontade,
De um sorvete tomar,
Cheguei à sorveteria,
E entrei bem devagar,
Ninguém me deu atenção,
E o atendente então,
Procurou nem me enxergar.

Então eu pude entender,
O que é o preconceito,
Mau trapilho e pés descalços,
Ao lembra me dói no peito,
Isto passei na verdade,
Vivendo numa cidade,
Sem em nada ter direito.

Ali via quase sempre,
Crianças iguais a mim,
Se meterem em encrencas,
Mexendo com coisas ruins,
Enfiando a cara no vicio,
Iam pra boca do lixo,
A mercê de um triste fim.

Eu Conheci um garoto,
Por nome de Jeremias,
Andava-mos sempre juntos,
Tudo a gente dividia,
Quem conseguisse comida,
Era pras duas barrigas,
Assim a gente vivia.

Jeremias era escurinho,
E bem maior do que eu,
Usava uma touca cinza,
Que um outro cara lhe deu,
Só me chamava de mano,
Mas pedia igual cigano,
Assim que me conheceu.

Mas logo não o vi mais,
Num dia de tempestade,
Quando um grande vendaval,
Atingiu essa cidade,
Fugimos em busca de abrigo,
Mas ele foi atingido,
Pelo galho de uma arvore.

Assim se foi meu amigo,
Que a mim deixou saudades,
Lembro-me como se fosse hoje,
Do que vivi nessa idade,
Hoje sou homem maduro,
Pra construir o meu futuro,
Ralei muito isso é verdade.

Sempre a margem da miséria,
Milhares de crianças estão,
A mercê de marginais,
Por não terem opção,
Entram no mundo do crime,
Forçado por um regime,
Que exclui o cidadão.

Assim crianças de rua,
Passam a vida vegetando,
Sem freqüentar uma escola,
Nas gangues vão se infiltrando,
Deixam a casa de seus pais,
Pra lá não retornam mais,
E o número vai só aumentando.

Fico triste quando vejo,
Passar na televisão,
O submundo em que vivem,
Esses inocentes irmãos,
Sem um lar, e sem família,
Preso pelas armadilhas,
Das drogas e prostituição.

Hoje Ando pelas ruas,
Todo cheio de esperança,
Mas de tudo que vivi,
Ficou em minha lembrança,
Trabalho na educação,
Mas me corta o coração,
Quando encontro tais crianças.

Quero deixar meu apelo,
Do fundo do coração,
Aos políticos brasileiros,
Que governam essa nação,
De seus mundos confortáveis,
Olhem pelos miseráveis,
Que vivem na exclusão,

São também seres humanos,
Nossos pequenos irmãos,
Que invistam no social,
Em Saúde e educação,
Dê-lhes um pingo de esperança,
Salvem as essas crianças,
Futuro desta nação!
Cosme. B. Araújo.16/05/2010.


CBPOESIAS
Enviado por CBPOESIAS em 17/05/2010
Reeditado em 03/06/2010
Código do texto: T2261437
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