MEIOS DIVERSOS, MOTIVOS DE VERSOS
Tive o prazer de afirmar
que, na poesia, eu intento,
independente do estilo,
colocar meu sentimento;
com muito amor, versos fiz,
mesmo sendo um aprendiz
de artesão do encantamento.
Sentindo o sopro do vento
No rosto, sinto alegria,
Refresco toda a minha alma
Na suave sinfonia;
Flutuo na imensidão,
Buscando a inspiração
Na brisa ao raiar do dia.
A natureza é a guia
Que me leva às borboletas
Nela minha inspiração
Tira das matas retretas
do trino dos passarinhos
saudando a manhã nos ninhos
feito estridentes cornetas.
Eu não guardo nas gavetas
O que escrevo em sentimento
Deus que me deu dom da escrita
Também deu consentimento
Para que eu cantasse os cantos
Espalhasse seus encantos
Mitigando o sofrimento.
Do mais pobre alojamento
De onde pouco é esperado
O pensamento é profundo
Conforme a dor do legado
Porque o sofrer inspira
E dele o sofredor tira
seu texto poetizado.
Poema aromatizado
A flor singela elabora,
O orvalho que dela pinga
Mostra que ela também chora,
E em rasgos de lealdade
Fica triste, com saudade,
Quando o viço vai-se embora.
Dádiva pra quem implora
O final da própria fome
É ter comida na mesa
E a certeza de que come,
Pois nada adiantaria
Um banquete em fantasia
Sem ter destino, nem nome.
Dom de poeta não some
Pode estar adormecido
Guardado por circunstância
De mau momento vivido
Mas numa hora que desperta
Ressurge a proposta certa
E seu destino é cumprido.
De qualquer acontecido
O poeta faz um verso
Quer seja alegre ou tristonho
Concordante ou controverso,
O que acontece na vida
É parte da sua lida,
Razão do seu universo.
Do motivo mais diverso
Faço fonte inspiradora
Até na cena chocante
Vejo a notícia mentora
Para que em cada estribilho
Eu possa mostrar o brilho
Da ode reveladora.
A poesia é professora
Pelos versos que transmite
Ensina a ser mais dolente
E que o poeta acredite
Naquilo tudo que escreve
Mostrando de forma leve
Muito além do que ele fite.
Diamante vem do grafite
Séculos depois de formado
Lembra de longe o processo
Lento do bem maturado
Que para ser mais perfeito
Corrige todo defeito
Antes de ser revelado.
Todo sonho já sonhado
Fica aquém da dimensão
De um poema exclusivo
Feito em forma de oração
Pois não consegue prevê
O que o bom poeta vê
Na sua imaginação.
No percorrer da função
Para inscrever minhas dores
Acumulei sofrimentos
Vindos de muitos amores,
Mas mesmo assim destaquei
Lembranças que eu dediquei
Aos que doei como flores.
Da Madeira até Açores
Passando por Tanganica
Vêem-se belezas diversas
Muito além da Martinica
que o poeta nem pressente
mas quando adentra na mente
nos versos personifica.
Tudo no mundo se explica,
Principalmente o concreto,
Mas quero ver explicar
Os versos do analfabeto,
Sem nunca ter estudado,
Com seu poema rimado
Tendo um sentido completo.
Não quero ser indiscreto
Nem falar mal de doutor
Mas já vi muito iletrado
Poetando com louvor
Pois poetar não se aprende
Nem à escola se rende
O poeta professor.
Sem preferência de cor
Às mais diversas contemplo
E se eu escolho rezar
Não valoro a cor do templo,
Pois para Deus o que basta
Não é a cor, que desgasta,
Mas a matiz feito exemplo.
Um imenso politemplo
Erguido em prol da poesia,
Seres de várias vertentes
Em uma só freguesia,
Reunindo humanidades,
Sem distinção, nem deidades,
Em busca da fantasia.
Todo mundo se extasia
Qual se fora um recital
Se o brilho ilumina à noite
No momento crucial
E a Lua raios dardeja
No poeta que deseja
Seu passeio sideral.
É um dom especial
Esse de poetizar
Pois do mais simples evento
Surgem rimas pra enfeitar
Os versos metrificados
Que até podem ser cantados
Pelo seu cadenciar.
Eu vou providenciar
Um silo incomensurável
Para armazenar meus versos
De valor inestimável
E tê-lo em momento certo
À disposição, aberto,
Como fonte renovável.
Talvez seja mais viável
lançar poesias no espaço
do que guardar espremidas
em um depósito de aço
visto que no firmamento
valsará em pleno vento
sem que perca o seu compasso.
Meu caminho eu mesmo traço
No rumo das rimas belas
Desvio da confusão
Vou pra longe das querelas
Prefiro a paz do jardim,
Cheiroso à flor de jasmim,
Por onde passam donzelas.
As mais humildes favelas
Foram palcos dos sambistas
Altas, bem perto do céu,
Com casas equilibristas
que sustentadas por Deus
inspiram os filhos seus
nos enredos e nas pistas.
Nossas maiores conquistas
Devemos à divindade
Por dar imaginação
E muita criatividade
A quem carente de teto,
Sem um salário completo,
Encontra a felicidade.