Um ponto fora da curva
Jacinto era um bom nego
Descendente de Zulu,
De patrão não foi pelego,
E nunca foi de andar nu,
Manso como um cordeiro,
Alegre como um peru.
Como um doido trabalhava
Para dá comida aos filhotes,
Fazia tudo que achava
Até para capar garrote,
Todos lhes procuravam
Mesmo pra amolar serrote.
O homem nunca bebeu
Até nascer seu filho quinto,
Uma cambalhota ele deu,
Acredite-me não minto,
Parece que ele morreu
Nascendo outro Jacinto.
Como uma fera enjaulada,
Rosnava que nem leão
E com a cabeça abaixada
Tinha vergonha o negão,
Pois uma bela cabeçada
Esmagou seu coração.
A esposa era uma pessoa
Dessas dedicada à família
Negona cheirosa e boa
Uma verdadeira Emília.
Era uma bonita coroa
Com cabeça de ervilha.
Os filhos eram gordinhos,
Com o trabalho do casal,
Todos eles bonitinhos,
Sujeira voava no pau,
As roupas dos neguinhos
Eram feitas no natal.
Mais todas bem bonitas
Com esmero bem feitas
Pras meninas tinha fita
Largas, normal e estreitas,
Uma chamava-se Rita
Com formosa silhueta.
A outra Maria da Guia,
Era a mais velha coitada,
Quando de casa saía,
Tinha de levar a negrada,
Como sua companhia
Pras coisas não dá errada.
Os meninos ao pai contava
Tudo, tudo o que acontecia,
Se as meninas namorava
No outro dia o pai sabia,
Aos meninos ele pagava
Ouvindo o que eles diziam.
Chamava atenção das filhas
Com todo o cuidado seu,
Querendo uma boa trilha
Tinha medo dos Romeu,
Bichos da mesma mantilha
Dos tarados e dos ateus.
Aí o quinto filho nasceu
E doido o coitado ficou,
Muita cachaça ele bebeu
E nunca mais endireitou
A família que Deus lhe deu,
A mulher esculhambou.
O quintinho até que podia,
Ter nascido como um urubu,
Ou mesmo como uma cotia,
Ou quem sabe um cururu
Mais uma coisa não podia,
Ser branquinho do olho azul.
Raeu