Filó

Seu Manuel era um matuto

Daqueles lá do sertão,

Quando chovia ele plantava

Batata macaxeira e feijão,

Mesmo na seca revirava

O seu pedaço de chão.

E assim criou dez filhos

Sem sofrer humilhação,

Não devia nada a ninguém,

Quanto mais na eleição.

Pelo seu voto nenhum vintém

Ou de vintém um milhão.

Pra terra não ser dividida

Por dez famílias não dava

Os filhos já foram embora,

Atrás de outras jornadas,

Uma boa criação colabora

E não fez a terra disputada.

Vivia ele e sua velha querida,

Produzindo pouco é verdade,

Mais dava para o sustento

Suprindo a necessidade,

E eles naquele momento

Só queriam tranqüilidade.

Um grito lá na porteira

Chamou sua atenção,

Tinha também batucada,

E gente cantando canção

Duas moças taradas,

Subiam em sua direção.

Bom dia seu Manuel!

Como é que vai o senhor?

Ele olhou pras duas moças

E ao que veio? Perguntou,

Trazer-lhes estas duas bolsas,

Foi o doutor quem mandou.

Se vocês ficarem também,

Fazendo parte do pacote,

Uma em cima de cama

A outra no pé do pote,

Como a segunda dama,

Pneu de estepe, “suporte.”

Levando na brincadeira,

Perguntaram, e dona Filó?

Com Filó não se preocupem,

Nela daremos um nó,

Ela já não discute,

Tadinha, prefere dormir só.

Sou eu quem preciso,

Pois ontem quando dormia

Sonhei com mulheres lindas,

E cada uma delas queria

Ter as discurção findas.

Toda noite e todo dia

Nisso o doutor foi chegando

Pelo caminho da porteira,

Compadre ta estranhando,

Vote em mim, que besteira,

As cestas eu estou lhe dando

Prova de amizade maneira.

De compadre ta me chamando

Já sei que vem rasteira.

Não queira levar as damas,

Pois elas não são rameiras,

E o senhor não tira a fama,

De mim e de minha peixeira.

E elas já concordaram

De ficarem aqui comigo,

Não queira atrapalhar,

Nem me chame de amigo,

Caso insista lhe vou furar,

Um buraco no umbigo.

Nisso ouviu-se um tabefe,

Daqueles que levanta pó,

Manuel estatelado no chão,

Pedia socorro tenha dó,

Então eu vi o machão,

Apanhando da Filó.

Raeu