O CORDELISTA SEMEIA FLORES DA NOSSA CULTURA - AOS POETAS

46. O CORDELISTA SEMEIA

FLORES DA NOSSA CULTURA

Autor: Heliodoro Morais

O meu sangue é nordestino

Sou feijão com rapadura

Sobrevivente da seca

Um exemplo de bravura

O meu verso chega ao céu

Num poema de cordel

Pra salvar nossa cultura

O cordelista é ventura

De bênção do pai celeste

Com missão de defender

A cultura do nordeste

O valor de sua gente

Pela força do valente

Matuto cabra da peste

O poema é mel silvestre

A estrofe, uma colméia

Cada verso é uma abelha

A doce rima é geléia

O poeta vale ouro

Porque possui o tesouro

Da riqueza da idéia

Sua maior odisséia

É vencer a vaidade

Muita gente esclarecida

Não tem sensibilidade

Pra notar que seu legado

É transportar o passado

Até a eternidade

Por sua simplicidade

Há quem chame de vulgar

A sua forma de ser

O seu jeito de falar

Nem tal discriminação

Vai banir a criação

Do poeta popular

A forma de se expressar

Usando a nossa linguagem

Faz todo mundo entender

A verdadeira mensagem

Sem precisar de rodeio

Porque o povo está cheio

De quem só fala bobagem

O poeta tem coragem

De mostrar sua visão

Discorre sobre o poder

Protesta quando há razão

Mas nunca perde o respeito

Nem descuida do direito

Que tem cada cidadão

É defensor da nação

Trabalha por sua glória

Não é refém da paixão

Pra mascarar a história

Da realidade dura

Do povo, que sem cultura

É um povo sem memória

Poeta, cordel, história

Criação, saber, verdade

O sentimento que expressa

O amor, a fidelidade

Na voz doce do repente

Pra não deixar o presente

Se transformar em saudade

O poeta é majestade

No reinado do sorriso

A sua lei é escrita

Num verso de improviso

O seu poder é a rima

Guardada com muita estima

Num cantinho do juízo

Reconhecer é preciso

O milagre e a magia

Do poeta que nos doa

Com muita sabedoria

O seu trabalho brilhante

Qual se fora um diamante

Em forma de poesia

Na ilha da fantasia

Dos sonhos de ilusão

A poesia é cultura

Em favor do cidadão

O poeta é luz que brilha

Desfilando maravilhas

Da sua imaginação

Não vamos dar o perdão

À cegueira que assola

Essa nossa educação

Que se omite e se isola

Da cultura popular

E não quer incentivar

Nosso cordel na escola

A nossa língua, ora bolas!

Faz parte da tradição

Será que só os poetas

Mostram preocupação

De empunhar a bandeira

Da cultura brasileira

Numa luta sem razão?

Só cabe no coração

Do nosso representante

Promessa de eleição

Cada dia mais distante

Sem perceber que o cordel

Tem importante papel

Pra nos levar adiante

Mas o vate segue avante

Não se deixa esmorecer

Sabendo que essa luta

Algum dia há de vencer

Mesmo sem ter estrutura

Vai defendendo a cultura

Pra não deixá-la morrer

O povo ainda vai ver

O cordel ganhar a praça

Nossa gente tem no peito

A poesia e a raça

Do verso do cordelista

Pois o sangue do artista

Corre nas veias da massa

O poeta não disfarça

E nem cansa de lutar

Por ser o maior escudo

Da cultura popular

Com sua rima e seu verso

Não desiste do processo

Até a coisa mudar

Se um dia ele se cansar

Nossa cultura não serve

Vendo a poesia morrer

A ignorância ferve

Lá se vão lendas e mitos

E os versos mais bonitos

Que retratam sua verve

Grande poeta, conserve

A sua perseverança

O seu verso é um deleite

Você é nossa esperança

A paz de um porto seguro

Mercê do homem maduro

Com coração de criança

Quem espera sempre alcança

Vamos ficar na espera

Que mais dia, menos dia

Antes do final da era

Nosso cordel finalmente

Perfume a vida da gente

Como a flor da primavera

Esse sonho de quimera

Há de ser coisa concreta

Os grilhões serão vencidos

Numa manobra discreta

E a vida, sem problema

Será o melhor poema

Da obra de um poeta

O meu neto, a sua neta

Gritarão em frente à praça

Nomes de grandes poetas

Talvez, como eles, faça

A mais bela poesia

Pra mostrar que a alegria

Sem poeta não tem graça

Poeta, se você passa

Permanece o seu legado

Pelo que faz no presente

Pelo que fez no passado

Pelo futuro também

Poeta, meus parabéns

Por tudo, muito obrigado

FIM

Heliodoro Morais
Enviado por Heliodoro Morais em 21/10/2009
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