RECORDAÇÕES
Não quero falar de mar
Nem mesmo da capital
Eu vou falar da saudade
Da minha terra natal
O meu querido sertão
Lá ficou meu coração
Na porteira do curral.
E pra matar a saudade
Vou contar uma historia
A infância da matuta
Bem vivida no dia a dia
No interior do mato
Esse nó que eu desato
Na nobreza da poesia.
Lá nasci e me criei
Entre as serras do sertão
Plantando, também colhendo
Alimento do meu chão
Bebi leite com Nescau
Com farinha fiz mingau
Do fubá fazia o pão.
No cercado vaquejei
Cavalo, ovelha e boiada
Pro rio pra beber água
Na montaria coroada
Sem realeza a princesa
Esbanjava essa beleza
Que por Deus foi batizada.
Quando se fazia festa
A família se reunia
Com gente de Garanhuns
E Recife, que alegria
As mocinhas arrumadas
Junto c’a rapaziada
E a festança acontecia.
No paredão do açude
Tinha forró e xaxado
Para beber só cachaça
Na brasa peixe assado
A farra da pescaria
Noite inteira cantoria
Um luar, céu estrelado.
Na fazenda angico torto
São João era festejado
Muitos fogos e rojões
O santo era aclamado
Fogueira, adivinhação
Agradecendo a plantação
Com muito milho assado.
O Meu pai João Batista
Fazendeiro e criador
Filho de Dão Salviano
Da “fazenda” “Contador”
Aprendeu bem a lição
Homem de bom coração
Trabalhar com muito amor.
Na fazenda do vovô
Um grande rio passava
E nas chuvas da enchente
Gente grande até brincava
Para pescar na vazante
Piaba e peixe grande
A criançada adorava.
Minha mãe doma Vanusa
Guerreira e dedicada
Seu pai Lourenço Emidio
Por ele foi muito amada
Ô mulher batalhadora
A filha de dona Flora
Mimosa flor estimada.
O Engenho Santa Fé
De Chã Preta é distrito
Café ele cultivou
Moço jovem e bonito
Depois cana e rapadura
Em Alagoas, cultura
Muito cedo ficou rico.
Também tinha no sertão
A tal fazenda Garrote
Em Santa Rosa – Iati
Criador de boi pra corte
Também plantava feijão
Milho pra alimentação
Homem de muita sorte.
Eis a minha homenagem
Para quem nasceu no mato
Cantar em cordel a vida
Pra todos dou um abraço
Minha mãe, peço perdão
Por minha contradição
Não ser desse mesmo laço.
Um grande homem guerreiro
Peço meu pai tua bênção
Seja feliz com Maizzia
Siga firme com emoção
Sou filha da natureza
Eu escrevo com nobreza
A sua vida no sertão.
Eu sou bel Tenorio Salviano
A filha do fazendeiro
Sou uma das três Marias
Ajudante do vaqueiro
João Alberto meu irmão
Amo-te de coração
Pois voce é meu guerreiro.
Goretti morena flor
Bela e inteligente
Ganhava só elogios
Fala sempre o que sente
Não importa a distancia
Psicologia é ciência
Lara é viver o presente.
Cristina foi à caçula
Por quinze anos reinou
Mas perdeu o principado
Cegonha nos visitou
Deixando outra criança
Que nos trouxe esperança
Nas tristezas que passou.
Nossa linda menininha
Kaline a mais bela flor
Formosura de mulher
Gerada com muita dor
Na idade de princesa
Tu és de bela grandeza
Só lhe falta o grande amor.
Hoje ficou a saudade
Vim morar na capital
E sou mãe de três meninas
Avó de Ícaro Gabriel
Esse milagre divino
Um presente do destino
Um anjo que veio do céu.
Os meus pais se separaram
Mas continua a família
Unidos por um só laço
Com paz e muita alegria
Minha mãe muito cansada
Abraça sua filha amada
Kaline é sua companhia.
O meu pai sofreu na vida
Viveu só na solidão
Vendeu a nossa fazenda
Levado pela emoção
O sonho um dia acabou
Perdeu o que conquistou
Quase perde sua razão.
Hoje mora com Maizzia
Sua esposa tão amada
Da vida ficou a lição
E o destino camarada
Trouxe-lhe um grande amor
Pra não ter saudade e dor
Da fazenda estimada.
Essa é minha história
A minha grande saudade
Contei em verso e prosa
É a mais pura verdade
A vida tem seu encanto
Com cada qual no seu canto
Vivendo a sua realidade.
A meu Deus eu agradeço
Por minhas filhas amadas
Três estrelas de Jesus
São princesa coroadas
Vou deixando um grande beijo
Para todos eu desejo
Uma vida iluminada.
bel 03/09/09