Uma viagem dos Beatles pela terra do cordel
Pra quem quiser vou contar
Tudo o que me sucedeu
Quando resolvi sonhar
Um sonho louco, só meu,
Do tempo de adolescente
Que no meu tempo se deu
Eu sonhei que bem aqui
Nesta terra sertaneja
Os Beatles tocavam hits
Passando uma bandeja
E diante do apurado
Se animavam na peleja
Apesar de ver contrastes
Percebia interseções
Entre a música dos Beatles
E o cantar dos sertões
Buscando nas nossas grotas
O lirismo pras canções
No sonho, eu ia e voltava
Sem saber bem ao certo
Se eles cantavam por aqui
Ou no rádio ali perto
Na casa de um feirante
Chamado José Norberto
Teve hora até que pensei
Que era só um pensamento
Daqueles que a gente tem
Por um pequeno momento
Viajando nas idéias
Rebocado pelo vento
Depois foi feito vontade
Que está para acontecer
Uma coisa sem verdade
Mas que eu estava a querer
Que depois do Oriente
Viessem me conhecer
Pensei em cima da bucha
Neles chegando a cavalo
Com as guitarras nas costas
E as mãos cheias de calo
De tanto puxar enxada
Ao primeiro cantar do galo
No sonho, vi todos eles
tentando tocar viola
E no dia seguinte em Londres
Guardando numa caixola
Um disco de cantador
E um chinelo de sola
Naquela hora bem via
Que anotando num papel
Penny lane e Let be
E o mote do coronel
Era a forma de trazer
Os Beatles para o cordel
Dava até para formar
Duas duplas bem famosas
John e Paul bons nas sextilhas
Ringo e George nas glosas
Cantando o cheiro do mato
E o perfume das rosas
Nessa altura da estória
Tinha coisa pra se vê
Pois siriema encantada
E as flores do mussambê
Seriam motes dos Beatles
Pra o rádio e pra tevê
A rapadura e a charque
Teriam uma ladainha
No rock sertanejado
Não faltaria a farinha
Pra juntar no escaldado
Leite puro da vaquinha
Ia ser um excelente
Meio de divulgação
Da famosa culinária
Das comidas do sertão
Que davam pra alimentar
A cada nova canção
Antes de acordar vi Beatles
Pro seu país não voltar
Desaprender os costumes
Das terrinhas de além-mar
E se tornar violeiros
Nessa terra potiguar.