ALÉM DE MIM - PINGOS NOS IS - CAPÍTULO 16

ALÉM DE MIM

PINGOS NOS IS – Capítulo XVI

André saiu do hospital na manhã seguinte, mas lhe foi recomendado ficar mais algum tempo na cama. Havia sofrido uma torção no ombro direito e ainda não podia mexer o braço sem sentir dor. Renato não falava com ele mais do que o necessário. Não o tratou mal nem bem mais do que o normal para a situação. Foi como se não tivesse acontecido nada, mas uma hora André sabia que o assunto viria à tona e ele mesmo deveria começar a falar, o que era o mais difícil.

No dia seguinte, Paula apareceu no apartamento e Renato a recebeu, frio como sempre.

- Eu posso vê-lo?

- Claro, ele apontou para a porta que estava aberta.

Ela passou por ele e entrou no quarto.

- Oi, vim te ver, ela falou, ainda perto da porta.

- Foi bom você vir, André disse com um sorriso, estendendo a mão para ela. – Vem aqui.

Paula se aproximou e sentou na cama ao lado dele.

- Você está melhor?

- Acho que vou ficar. Eu preciso falar com você sobre... aquele assunto. Chama o Renato.

Paula pressentiu que aquilo estava ficando com cara de despedida.

- Você vai me pedir pra eu nunca mais te ver, não é?

- Com um motivo muito justo.

- Não há motivo justo pra isso acontecer, André. Não depois de tudo que aconteceu com a gente. O que é? Você tem... AIDS?

Ele riu.

- Poxa! Você viaja, hein? Claro que não. Você mesma constatou que eu era virgem quando a gente transou. Como eu posso ter AIDS? Só se peguei de você.

Paula riu também, mas ficou séria em seguida.

- Então eu não vou deixar você...

- Chama o Renato, Paula.

Ela respirou fundo e foi até a sala chamar Renato. Ele estava junto à janela.

- Ele está chamando você.

Renato foi pra o quarto com ela. André ficou olhando para os dois, respirou fundo e começou:

- Acho bom esclarecermos de uma vez por todas essa confusão. De repente eu me vejo magoando duas pessoas que não deviam estar sofrendo e não dá mais pra continuar com isso. Eu estou cansado só de pensar. Paula, eu vou te contar exatamente por que eu e o Renato viemos juntos pra Paquetá...

- Não! – interrompeu Renato.

- Eu gostaria que você não interferisse, Rê.

- Você não pode.

- Eu sei o que estou fazendo. Me deixa explicar.

Renato calou-se, cruzou os braços e esperou.

- Paula, eu não sei exatamente o que me fez envolver você nisso. Talvez eu estivesse... com raiva do comportamento do Renato ou revoltado com alguma coisa que eu queria ter e não podia... sei lá... A verdade é que não é possível haver nada de mais sério entre nós.

- Muito tarde pra dizer isso... ela lamentou.

Renato sentiu o chão faltar ao ouvir a confirmação do que ele já desconfiava. André olhou para ele e continuou firme.

- Mas não está tarde ainda pra terminar.

- Por quê? – ela disse, já com lágrimas nos olhos.

- Porque... eu não tenho muito tempo de vida...

Paula sentou-se na beira da cama, perplexa.

- O quê?

- Eu não vou viver muito tempo. Vir até aqui foi um desejo meu que o Renato tornou possível... e esse tempo já está acabando. Nós vamos voltar para São Paulo logo que eu puder sair dessa cama e depois disso você nunca mais vai me ver.

Paula, com os olhos cheios de lágrimas, olhou para Renato e perguntou:

- Isso é verdade?

Ele confirmou com um gesto.

- E por que você não me disse isso antes, André? Por que não disse isso logo no início?

- Eu não tinha ideia de que ia acontecer isso tudo. Pra mim ia ser só uma estadia... pra fugir... de um problema... inevitável.

- Problema... inevitável... Eu não posso acreditar que você vai morrer...

André sentia a garganta arder, mas conteve a emoção e permaneceu calmo.

- Você vai voltar pra lá pra quê? Não tem mais nada lá! - ela disse.

- O Renato tem uma mulher esperando por ele e eu tenho meu irmão. Não tem sentido ficar mais tempo aqui.

- Me deixa ir com você então.

- Não. Pra quê? Você só vai sofrer mais... se decepcionar mais. Vai me fazer sofrer duas vezes também. Seu irmão já anda uma fera comigo, se eu levar você, ele acaba comigo antes do tempo.

- E aquele idiota bateu em você!

Ela aproximou-se dele e o abraçou, chorando.

- Quando você pretende ir?

- Amanhã cedo. Acho que já vou poder sair dessa cama.

- Eu não vou ter coragem de me despedir de você amanhã. Posso fazer isso agora?

André não disse sim nem não. Paula o beijou longa e apaixonadamente. Renato virou as costas e foi para perto da janela.

- Me liga quando chegar lá?

- Acho que seria melhor que você nunca mais ouvisse falar de mim, Paula.

- Você quer passar um trator em cima de mim, fala logo, droga! Nem um telefonema?

Ele ficou em silêncio.

- Tudo bem. Fazer tudo o que seu mestre mandar, ela brincou, com o rosto molhado de lágrimas. - Maldita hora em que eu te levei praquela cabana. Vou acabar morrendo feito aquela índia...

Levantou-se e saiu correndo do quarto, indo embora. Renato olhou novamente para ele. André fez o mesmo.

- Daqui pra frente quem toma as decisões é você, Rê. Eu não sei mais o que fazer da minha vida.

Renato aproximou-se, sentou na cama ao lado dele e segurou sua mão.

- Fiz tudo errado, não foi? – André perguntou, começando a chorar.

Renato o abraçou.

- Fiz... Eu fiz tudo errado... Me perdoa...

ALÉM DE MIM

PINGOS NOS IS - CAPÍTULO 16

OBRIGADA, SENHOR, POR TUDO!

DEUS ABENÇOE A TODOS!

PAZ E BEM!

Velucy
Enviado por Velucy em 18/10/2020
Código do texto: T7090094
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